Sugestão: pagar tudo com cartão

MultibancoImagino que esta sugestão não seja, para já, muito popular, pelo menos segundo o que leio nos vários blogs portugueses que actualmente sigo (cujos autores/as parecem preferir formas mais “artesanais” de gerir estas coisas — e não vejam isto como uma crítica, OK?), e também por ir em parte contra a sabedoria popular relativa a estas questões. Mas, se quiserem saaber porque é que actualmente sou apologista de pagar tudo com cartão (ou pelo menos tanto quanto for possível), podem continuar a ler. 🙂

Primeiro, listo as razões que em geral ouço/leio para se preferir pagar em dinheiro:

  1. faz o dinheiro gasto parecer mais “real”, mais “a sério”, por estarmos a entregar ao comerciante algo físico que nos sai da carteira, em vez de apenas passarmos ou inserirmos um cartão numa maquineta e sabermos que, já bem longe, um certo valor diminui um pouco. Isto, supostamente, faz com que tenhamos mais atenção ao que gastamos;
  2. permite fazer coisas tipo “levanto 20€ no início da semana e restrinjo os gastos durante a mesma ao que tenho na carteira“;
  3. associado ao anterior: permite ter um sistema de envelopes físicos.

A minha resposta a essas 3 razões é simples: 1) questão de mentalização (o que conta não é o papel, é o valor na conta); 2) como já disse várias vezes aqui (ver o post dos envelopes, e os vários comentários — meus e não só — no mesmo), não acredito mesmo nessa ideia de “esconder (ou tornar menos acessível) o dinheiro de nós próprios“, acho que demonstra falta de auto-controlo, como se fossemos ocasionalmente dominados por uma “força” que nos obriga a fazer coisas que não queremos (como o Ricardo diz neste comentário, ter 20€ ou 200€ na carteira não deveria afectar minimamente o que gastamos), e 3) no post acima linkado explico porque é que não sou fã desse sistema.

Mas isso são só razões contra uma preferência. Porque é que tenho a preferência oposta? Porque estou convencido de que o primeiro passo para gerirmos melhor as nossas finanças é saber-se exactamente para onde está a ir o dinheiro (parece algo básico, mas muita gente não faz ideia, ou só julga que sabe — sobretudo se parte das coisas é paga em dinheiro, outra parte com cartão, etc.), e que ser tudo feito de forma electrónica torna isso ridiculamente mais fácil, sendo somente questão de nos familiarizarmos com o(s) sistema(s) de homebanking (ou extractos bancários, para quem tenha gostos peculiares). Permite, por exemplo (e repare-se que me refiro somente a olhar para movimentos; nem sequer estou a considerar aqui em softwares de finanças pessoais tipo Boonzi 1):

  • obviamente, saber exactamente quanto dinheiro sai (e entra), no total, todos os meses (anos, etc.);
  • saber exactamente quanto dinheiro gastámos em X (restaurantes, gasolina, supermercado, etc.) em determinado período (ex. último mês) — sim, tudo isto é possível fazer “à mão”, mas torna-se muito mais fácil se não tivermos de despender tempo e esforço a inserir dados (num Excel, numa folha de papel, etc.) todos os meses;
  • ver (e fazer gráficos, se estivermos para aí virados) a evolução dos vários tipos de gastos, mês após mês;
  • ter acesso rápido aos pagamentos anuais (seguros, IMI, etc.) — datas, e valores habituais/do ano passado — de forma a poder-se facilmente antecipar os próximos;
  • não ter de andar a guardar talões das lojas (ou apontar coisas) para se saber todas as despesas/compras em detalhe;
  • fazer os posts dos gastos semanais em poucos minutos (é só abrir os movimentos da conta, do cartão de crédito, e do cartão de refeição). 🙂

E isto é menor, mas… não uso uma caixa Multibanco há meses (gestão e pagamentos são pelo homebanking, e o dinheiro na carteira dura meses — só o uso às vezes na mercearia ao pé de casa). Como já devem ter reparado, detesto estar em filas. 🙂

Nota: quando digo “cartão”, refiro-me tanto a um cartão de débito (ex. Multibanco), como a um cartão de crédito (Visa, etc.), desde que este último seja sempre pago a 100%, de forma a não criar juros. Cartões de crédito não são inerentemente “evil”; usá-los para comprar o que não podemos (ou queremos) pagar agora, isso sim, é bem “evil” 2.

  1. actualmente não uso nenhum; não acredito que fosse acrescentar muito valor aos meus métodos actuais, mas não tenho nada contra a ideia em si
  2. “ei, mas tu não usas? aparece sempre nos gastos semanais, e ainda tens uns milhares por pagar…” É verdade, uso para assinaturas de várias coisas na net, que requerem cartão de crédito (acho mais prático que o MBnet e afins), e certifico-me que, enquanto não me é possível pagar a totalidade, pelo menos pago mais do que uso — bem mais, nos últimos meses

3 comentários em “Sugestão: pagar tudo com cartão”

  1. Eu, neste momento, estou a ir ao multibanco uma vez por semana. Programo os pagamentos que tenho de fazer (p.e. telemóvel, quotas) ou os valores a levantar (p.e. para dar em casa, para gestão de contas mensais, combustível-gosto de pagar a dinheiro para não ter de sair do carro), e realmente faço o que referes, levanto um x para andar comigo, mas é tão, tão pouco que nem vale a pena referência (é para os cafés com as amigas 2x/semana – como já por aqui referi).

    Mas tenho de concordar, a pesquisa e a monotorização de para onde vai o dinheiro, usando o multibanco é bem mais fácil e prática.

    Mas nada como escrever, rasurar e apontar. Para mim funciona como terapia.
    Mas compreendo que não se encaixe nos afazeres diários de todos, o registo manual das despesas. [aqui, também me safo por ter muitos dias com gastos 0€].

    Continue, estou a gostar de acompanhar 🙂

    1. É “continua”. 😉 E obrigado. 🙂

      Eu até compreendo a questão de que fazer coisas à mão pode ser terapêutico — adoro, por exemplo, fazer mapas de jogos de ficção interactiva (dos anos 80 e 90; também conhecidos por “aventuras de texto”) usando papel e caneta (sim, sou MUITO estranho). 🙂 Mas relaxa-me, e ao mesmo tempo faz-me puxar pela cabeça, e por isso dispenso completamente a ideia de ir à net procurar mapas já feitos.

      Mas, relativamente à gestão do dinheiro, prefiro mesmo automatizar tanto quanto possível, para ser uma preocupação a menos. Desta forma, não tenho de ter preocupações/trabalho a registar despesas no dia-a-dia, é só, no fim, abrir o homebanking e ver os movimentos do período que quiser. Tendo 20 despesas numa semana ou tendo zero, o esforço de gestão é virtualmente o mesmo.

      Mas, pronto, o importante é termos adoptado métodos com os quais funcionemos bem. 🙂

  2. No meu caso também pago o máximo com cartão multibanco e as contas mensais sempre com débito directo. Não só pela mesma razão – mais fácil o tracking das despesas – como porque, se não tivesse débito directo, metade das contas ficavam por pagar, eheheh.
    O débito directo para mim foi uma excelente invenção.

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