Estou preocupado com a invasão Russa à Ucrânia?

Muito se tem falado em jornais e revistas financeiros, blogs, fóruns, subs de Reddit, etc. sobre como a guerra na Ucrânia afecta os nossos investimentos. Os mercados caíram um pouco nos últimos dias, e já vi tanto pessoas a lamentar-se de ter comprado acções/ETFs nos últimos dias, como até um ou dois a “gabar-se” de ter vendido tudo na semana passada (como se tivessem feito um market timing genial).

Se me perguntarem “não estás preocupado?“, a minha resposta é: Continuar a ler “Estou preocupado com a invasão Russa à Ucrânia?”

O meu plano de investimento (edição Fevereiro de 2022)

GráficoDepois de abordar o que são planos de investimento de forma geral, é finalmente hora de falar do meu plano de investimento, aquele que sigo actualmente e que penso seguir… até desenvolver um melhor. Pois é, o “edição Fevereiro de 2022”, no título do post, tem razão de ser — é o que eu sigo agora, mas não é o que eu seguia há um ano ou isso (até porque na altura não tinha um plano “a sério”, apenas ideias), e há sempre a possibilidade — e isso até é bom sinal, parece-me — de no futuro o aperfeiçoar ou até substituir. Mas, neste momento, é este.

Mas, antes de tudo, 2 disclaimers importantes, que peço que não saltem:

  1. primeiro, isto já se aplica a todo o blog desde o seu início1, mas não sou um profissional na área, isto não é “aconselhamento financeiro”, e se precisarem disso contratem um profissional. Estou apenas a partilhar o que decidi fazer, em resultado do que li, investiguei e aprendi nos últimos anos, mas isto é válido para mim. Seria preciso serem completamente loucos para me imitarem 🙂 , até porque…
  2. este plano específico não é nada “estudado”; não fiz nenhum tipo de análise ou cálculos para chegar ao mesmo, e, ainda por cima, estou (como já vão ver), para todos os efeitos, a juntar duas ideias que normalmente se fazem separadamente. Tanto quanto vi na net, não há muito mais gente a fazer isto  intencionalmente (eu, pelo menos, não vi ninguém), se bem que alguém que investisse principalmente em ETFs distributivos (e não acumulativos) estaria a fazer algo ligeiramente parecido. Em resumo: isto sou eu a inventar. Don’t try this at home, nem em mais lado nenhum. 🙂

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Planos de Investimento (na Bolsa)

Apesar de nos últimos tempos (com uma excepção ou outra) o blog estar mais focado em investimentos na bolsa (e ainda há muito para escrever no futuro), reparei há dias que existe uma parte importante de investir que nunca abordei aqui — o meu plano de investimento.

Mas primeiro, naturalmente, vamos responder à questão: o que é um plano de investimento, afinal? Em geral é bom definir as coisas antes de falar delas — as mesmas palavras podem significar uma coisa para uns, e algo diferente para outros.

Um plano de investimento pode ser mais simples ou mais complicado, mas no fundo resume-se a decidir (e possivelmente escrever — no meu caso, nunca o fiz até ao próximo post, mas em geral pôr estas coisas por escrito até é boa ideia, tanto em termos de ficar registado, como de ajudar a organizar as ideias) como é que vamos investir ao longo do tempo, tanto em situações “normais” como no caso de uma ou mais situações excepcionais que achamos possíveis.

Basicamente, “em geral faço X; se acontecer A, faço B; se acontecer C, faço D; etc..”

Estes planos podem ser complicadíssimos, envolvendo intervenções em tempo real ao longo do dia (ex. day trading), análise de notícias ao minuto, análise fundamental de empresas, análise técnica de gráficos, etc., tudo para tentar optimizar não só que empresas comprar e vender, mas quando — por vezes medido à fracção de segundo. É perfeitamente possível uma pessoa dedicar a vida a isto — e muitos fazem precisamente isso, seja como profissão, seja a nível pessoal. Destes últimos, uns fazem-no porque acreditam que investir “tem” de ser assim, e outros porque simplesmente acham piada, acham emocionante — e não há mal nenhum nisso.

Em alternativa, um plano pode ser extremamente simples. Que tal algo como “comprar X€ (ou Y% do ordenado) deste ETF todos os meses, nunca vendendo nada, e ignorando completamente subidas e descidas de preço”?

Se andam nas várias comunidades de FIRE e/ou literacia financeira portuguesas, de certeza que já ouviram a expressão “IWDA and chill” (basicamente “IWDA e relaxa”). Se no parágrafo acima substituirem “deste ETF” por “de IWDA1“, têm aí o plano que resume essa expressão.

Repararam, acima, no “nunca vender” e no “ignorando completamente subidas e descidas de preço”? Estes dois pontos revelam que estamos perante um plano de investimento passivo, ao contrário do investimento activo, em que se tenta comprar barato e vender caro. Investindo passivamente, não há essa preocupação — as compras são regulares, e as vendas são… nunca. 🙂 Bem, “nunca” até se chegar a alguma forma de independência financeira, altura essa em que temos a opção (mas não a “obrigação”, claro) de deixar de trabalhar e viver dos investimentos (o normal é ter-se investido 25x as nossas despesas anuais, e depois vender-se 4% do investimento por ano).

Como acabámos de ver, então, um plano de investimento pode ser tão simples como “faz isto todos os meses”. Mas, na minha opinião, acho que qualquer plano, simples ou complicado, passivo ou activo, deve também incluir o necessário para gerir as nossas emoções, em períodos mais críticos.

Sabem aquelas alturas em que os mercados caem 20% ou mais num dia? Quando as notícias não falam de outra coisa (usando palavras como “crash“, “recessão“, “crise financeira“, etc.), e imensos investidores entram em pânico, vendem tudo o que têm por menos do que compraram (achando que, se não o fizerem, arriscam-se a perder tudo), e deixam-se disto para o resto da vida, passando a avisar amigos e familiares de que “a bolsa é um casino, não te metas nisso”? Acho que um plano que não inclua como agir nesses eventos é um plano incompleto. Pode ser algo tão simples como: “quedas drásticas num dia acontecem com frequência, e são algo perfeitamente normal. Já houve N no passado, esta não é nada de especial, e haverá outras no futuro. Não vou entrar em pânico, nem desviar-me do plano (excepto talvez comprar mais do que o habitual, se tiver liquidez para isso, por as acções estarem em saldo). Não “perdi dinheiro”, porque só perderia se vendesse. Não estou nisto por uma semana, mas por décadas. E a longo prazo os mercados sobem sempre.

E é isto. A seguir: o meu plano. Até lá: dúvidas? 🙂

Independência Financeira, e os vários tipos de Investimentos na Bolsa

Ando há dias a pensar fazer um post sobre o meu plano actual de investimento, mas, antes disso, achei melhor começar por definir os vários tipos possíveis de investimentos, de forma a depois ser claro do que estou a falar. Além de que a secção “Conceitos” já não tinha uma nova entrada há um bom tempo. 🙂

Os tipos de investimento mais comuns são estes (existem outros — ver disclaimer no fim do post):

1- tentar comprar caro e vender barato e ganhar dinheiro assim 
1.1. – geral (isto é, sem ser day trading) — os períodos são variáveis, possivelmente meses ou anos; basicamente compra-se uma ou várias acções ou ETFs, idealmente quando estão “mais baixas” (o que é sempre difícil de dizer, mas quem faz disto vida tem imensas técnicas de análise de gráficos (a chamada Análise Técnica)) e vende-se quando estão “mais caras”, idealmente no cimo da “montanha”, de forma a ter lucro dessa forma.
1.2 – day trading — uma forma mais extrema, em que os perídos de retenção são inferiores a um dia — muitas vezes até inferiores a uma hora. Confesso que nunca estudei o assunto, talvez por esta ser a forma mais activa de investimento (implica quase viver para isso), quando o meu objectivo é fazê-lo da forma mais passiva possível.

2- acumulação (buy and hold): comprar (seja empresas escolhidas através de análise fundamental (olhar para relatórios das empresas e afins de forma a tentar encontrar as que estão subvalorizadas), seja ETFs de index funds), e continuar a comprar todos os meses, durante bastante tempo (décadas, em geral). Nessa fase de acumulação, nunca se vende nada, só se compra. Para a independência financeira, a ideia é chegar a um valor de investimentos que permita viver com 4% desse valor por ano, e depois vende-se esses 4% cada ano e vive-se disso — a ideia é que o crescimento médio do que fica por vender faz com que ele se “auto-regenere” o suficiente para nos sustentar o resto da vida.

3- investimento para dividendos (dividend investing): também se faz acumulação, mas com duas diferenças fundamentais: primeiro, na fase de acumulação, as empresas ou ETFs (em geral empresas) são escolhidas não tanto em função do seu possível crescimento (que acaba por ser irrelevante), mas pelos dividendos que pagaram, pagam, e devem continuar a pagar. Além de se continuar a investir normalmente, os dividendos recebidos também são reinvestidos. Em segundo lugar, ignora-se a regra dos 4% — a independência financeira alcança-se quando os dividendos anuais são suficientes para viver, e nesse momento temos várias escolhas: por exemplo, continuar a trabalhar mas deixar de investir (tendo muito mais dinheiro todos os meses) e deixar só os dividendos a reinvestir-se; ou então, deixar de trabalhar e viver só dos dividendos (que deixam de ser reinvestidos). Ou podemos até passar mais um ano ou três a trabalhar, investir, e reinvestir dividendos, de forma a depois termos mais por ano. O importante é que já só trabalhamos se quisermos, por isso estamos financeiramente independentes (FI). E, desta forma, nunca se vende uma única acção ou ETF — se tivermos descendência, podemos dar-lhes uma grande herança, se estivermos para aí virados.

DISCLAIMER: existem outros tipos de investimentos mais complexos, como opções, futuros, produtos alavancados, etc. Mas o pouco que li sobre eles fá-los soar muito a “apostas”, além de que, mais uma vez, são formas bastante activas de investir, e eu prefiro ir por um caminho mais passivo.

Por falar em activo/passivo:

Activo é quando a forma de investirmos pede a nossa atenção de forma constante ou semi-constante. Por exemplo, na lista acima, o tipo 1 é claramente uma forma de investir activa, que implica sempre análise técnica (analisar gráficos para tentar adivinhar o que vai acontecer a seguir) e/ou análise fundamental (ver dados, relatórios, etc. das várias empresas, de forma a tentar comprar as subvalorizadas, e vendê-las quando estão sobrevalorizadas).

Passivo, por outro lado, é quando definimos uma regra relativamente simples (ex. comprar X€ deste(s) ETF(s) todos os meses, ou desta lista de acções (seja na expectativa de crescimento, seja pelos dividendos)), e depois a seguimos por um longo período de tempo (idealmente várias décadas), sem prestar a mínima atenção à evolução de cada um dos investimentos (excepto em casos extremos, como falências de empresas, ou algumas deixarem permanentemente de pagar dividendos quando foram compradas com esse objectivo) — não se gasta um segundo a pensar se os mercados “estão caros”, “estão baratos”, ou se certas acções “vão subir”, “vão descer”, etc.. E, idealmente, até se automatiza. 🙂

Dúvidas? Esclarecimentos?

Ainda sobre o DCA intencional…

No último post, Dollar Cost Averaging (DCA): vantagens e desvantagens, mencionei um artigo sobre o mesmo tema do JL Collins, onde há algo que achei delicioso, e que não resisti a partilhar: vários comentários que dizem algo como “sim, ok… eu entendo o que queres dizer, mas ninguém me convence que os mercados NÃO estão numa bolha, que não está prestes a haver uma correcção. Era preciso ser maluco para comprar agora.

As datas desses comentários? 2014, 2015… E o que é que aconteceu às bolsas desde então?

S&P 500 desde 2014
VUSA (ETF de S&P 500) desde 2014

“Só” subiram quase para o quádruplo.

Quanto dinheiro é que esses comentadores não ganharam nos últimos 6-7 anos por terem ficado à espera da “iminente” correcção, e assim não investirem na altura?

Pois é. 🙂 Mas mesmo esta semana vi, num grupo de FIRE, alguém (que ninguém contrariou) a dizer exactamente o mesmo que esses comentários: que estamos claramente numa bolha prestes a rebentar, que é má altura para comprar, que é melhor esperar pela queda que está mesmo, mesmo a acontecer, etc., etc..

“Timing the market” é SEMPRE uma má aposta. Sim, haverá eventualmente (isto é universal) uma correcção no futuro, mas pode ser em 10 minutos ou em 10 anos; não há forma de prever, nem isso deve afectar o que fazemos ou deixamos de fazer.

P.S. – imagino que ninguém aqui caia nesse erro 😉 , mas para quem pensar “ah e tal, podiam ter esperado1 pela queda de 2020 (devida à pandemia) e comprado aí“, faço notar que mesmo no fundo dessa queda, os mercados estavam bem acima dos valores de 2014-15 — ou seja, teria na mesma sido muito mais vantajoso comprar no início.

Dollar Cost Averaging (DCA): vantagens e desvantagens

Dollar Cost Averaging (DCA) é, na sua definição mais simples, o acto de se comprar, ao longo do tempo, um valor fixo de algo (ex. acções, ETFs) periodicamente (normalmente, todos os meses), o que faz com que, para todos os efeitos, se esteja a comprar isso ao preço médio, em vez do preço num único momento no tempo. Por exemplo, se todos os meses comprar 200€ da acção X, uns meses isso compra-me mais unidades dessa acção (quando ela está mais barata), outros meses compra menos (quando está mais cara), e ao longo de um período mais longo (por exemplo, um ano) é como se se tivesse comprado a dita pelo preço médio da mesma durante esse ano.

Mas noto (por exemplo, em grupos de FIRE portugueses, e não só) que há por vezes uma mistura entre dois tipos de DCA, aos quais eu chamo necessáriointencional, e que é importante distinguir:

  1. DCA necessário: é quando se faz investimentos periódicos fixos porque é isso que temos para investir. Por exemplo, se decidirmos que, todos os meses, investimos 10% do ordenado, ou investimos um valor fixo como 200€, estamos para todos os efeitos a fazer DCA — uns meses, esses 10%/200€ compram mais (por estar mais barato), outros compram menos (por estar mais caro), portanto ao fim de 1 ou 2 anos o “preço” que se pagou pelas acções (ETFs, etc.) foi a média durante esse tempo. Como a tendência a longo prazo é subir, em geral ganha-se dinheiro assim, sem problemas. E isto é (ou deve ser) automático, ou seja, não há cá preocupações com “bull markets”, “bear markets”, ou qualquer outro tipo de “market timing”.
  2. DCA intencional: acontece quando temos um valor relativamente grande para investir (por exemplo, uma herança, uma venda de uma casa ou carro, um bónus, etc.), e decidimos investir esse valor… mas temos (sobretudo se estivermos num “bull market”) o (já mencionado aqui) terror pervasivo e constante de que as bolsas estão caras!!!, e de como é possível investirmos, sei lá, 100K€ hoje, e depois amanhã os mercados caem 20%, e a sensação vai ser horrível!!! Sendo assim, achamos que mais vale jogar pelo seguro e dividir esse investimento por uns 12 ou 24 meses (ou até mais), investindo um valor 1/12 ou 1/24 dele todos os meses, garantido assim que somos menos afectados pela volatilidade, e que se houver uma queda “cedo” nesse período de 12 ou 24 meses, a maior parte das acções que compraremos será a um preço menor.

Parece fazer sentido, não é? Afinal, se o histórico de uma acção/ETF tem este aspecto:

Bull market

parece óbvio que está “cara”, e que o mais provável é haver em breve uma correcção que a faz descer.

Mas, na verdade, fazer DCA intencional é uma má aposta, e vamos ver porquê:

  • é vantajoso se os mercados caírem (e ficarem “caídos” por muito tempo), mas é desvantajoso se eles subirem (nesse caso, teria sido melhor investir a quantia toda no dia 1);
  • a tendência dos mercados, a longo prazo, é sempre a subida;
  • a tendência dos mercados ao longo de cada ano é também subir (por exemplo, nos 34 anos entre 1986 e 2019, os mercados subiram em 28 dos anos, e desceram em 6, o que quer dizer que em 82% dos anos subiram, e em 18% desceram);
  • por outras palavras, ao fazer DCA intencional, estamos a apostar em algo menos provável do que o seu oposto, enquanto ao comprar já o que podemos estamos a apostar em algo bem mais provável (a subida das bolsas);
  • … e, como se isso não bastasse, ao adiar os investimentos, estamos a sacrificar os dividendos que receberíamos (tanto na conta no caso de acções individuais ou ETFs distributivos, como na subida do valor do ETF no caso de um acumulativo) se tivessemos um valor bastante maior investido desde o início. Isto é válido sempre, quer as bolsas subam ou desçam;
  • é “market timing”, o que por si só já produz em geral piores resultados do que “time in the market”, e…
  • … aumenta a complexidade de investir (que deve, idealmente, ser algo simples e automático).

Em resumo: DCA intencional é apostar em algo que é ao mesmo tempo menos provável, e menos vantajoso caso se realize. É uma má aposta, que até pode ocasionalmente resultar (da mesma forma que muito raramente alguém ganha imenso dinheiro com raspadinhas ou Euromilhões, mas isso não faz com que gastar o ordenado inteiro em raspadinhas ou no Euromilhões seja boa ideia), mas mesmo assim é melhor fazer boas apostas. 🙂 E é importante também controlarmos os nossos medos, em especial ligados à volatilidade: afinal, não se perde realmente dinheiro por as acções descerem temporariamente, só se perde se as vendermos depois de caírem (e antes de recuperarem). Vou falar mais disso num post futuro sobre o livro “The Psychology of Money”, mas a volatilidade dos mercados deve ser vista como uma taxa ou custo — o preço que pagamos para ganhar dinheiro com a bolsa — e não como uma multa (algo que significa que fizemos algo de errado, e que é como um castigo).

Se quiserem mais detalhes sobre porque é que DCA intencional é uma má aposta, o JL Collins (autor do excelente livro The Simple Path to Wealth) fala disso aqui.

Há alguma vantagem (afinal, o título do post menciona essa possibilidade) em fazer DCA intencional? Só uma, na minha opinião: se uma pessoa não conseguir, de forma alguma, ultrapassar os seus medos relativos a uma possível queda logo a seguir a ter investido uma grande quantia, então fazer DCA intencional, sendo pior do que investir a totalidade no dia 1, é mesmo assim muito, muito melhor do que não investir de todo. E, se for a única forma de o conseguirem fazer, não há que ter vergonha disso — afinal, não somos robots.