As minhas poupanças (mensais e anuais) desde que comecei a levar estas coisas mais a sério

Algo que já foi mencionado aqui uma vez ou outra (tanto por mim como em alguns comentários) é o facto de ser útil, ao considerar uma poupança/redução de custos mensal, pensar nela também anualmente. Ou seja, uma redução de (relativos) “trocos” todos os meses, quando multiplicada por 12, já dá, muitas vezes, um valor “palpável” — sobretudo se se somar várias poupanças semelhantes.

Já referi aqui também (por exemplo, neste post) algumas dessas poupanças mensais que implementei para o futuro, em geral cortando coisas (assinaturas, etc.). Mas, hoje, quis ir mais longe e criar uma tabela de todas essas reduções — e respectivos totais poupados por mêspor ano –, incluido algumas coisas que cortei mesmo antes de começar o OvelhaOstra. For extra fun, incluo também as reduções em jogoscompras em app stores, depois de somar todas as despesas em ambas as áreas em 2017 1 e dividir por 12 para obter uma média mensal. Sim, os totais aí são um bocado assustadores. 🙂

CORTE DINHEIRO POUPADO Depois de começar o blog?
Serviços de telecomunicações pouco usados 21,00 € X
Assinatura do servidor p/ estatísticas 20,00 € X
Assinatura de 3 revistas no Kindle 6,00 € X
Assinatura Big Fish Games 7,00 €
Assinatura Humble Bundle Monthly 11,00 €
Patreon (redução mensal) 15,00 €
Jogos (Steam e PSN) (média mensal de 2017) 56,00 €
Compras App Store (Apple) + Play Store (Android) (média mensal de 2017) – incluía assinatura do Marvel Puzzle Quest, já mencionada no passado 38,50 € em parte
Total poupado mensalmente 174,50 €
Total poupado anualmente 2 094,00 €

Não apresento isto para me gabar — muito pelo contrário, até tenho alguma vergonha de ter sido tão consumista no passado. 🙁 Mas, ei, há que seguir em frente, aprender com os erros, pensar positivo, e essas coisas todas, e, segundo a tabela acima, a minha poupança anual (em relação a 2017, se bem que parte destas mudanças só tiveram início alguns meses depois do início de 2018 — umas mais cedo, outras só este mês), só em gastos “regulares”, é superior a 2000€, o que (pelas pesquisas rápidas que acabei de fazer) é mais do dobro do ordenado líquido médio em Portugal. Vendo a coisa de outro ângulo: a partir do meio deste ano é como se me tivessem aumentado em 175€/mês. Líquidos.

E nada disto constiuiu um esforço colossal, ou um sacrifício enorme. Muito pelo contrário, actualmente nem sinto a falta do que cancelei (excepto, muito ocasionalmente, pequenas curiosidades tipo “como é que será este jogo?“, mas depois lembro-me dos milhentos que ainda tenho por jogar 🙂 ), e tudo isto deixa-me mais optimista em relação ao futuro — afinal, fui “aumentado” em 2000€/ano. 😀 De resto, espero que este post mostre bem como cortar em pequenas coisas regulares pode fazer uma diferença, ao longo do tempo, bem maior do que se poderia pensar.

(NOTA: esta é a primeira tabela que faço neste blog, por isso não faço ideia se ela aparecerá bem a todos, sobretudo a quem estiver a ler num leitor/agregador de feeds. Se aparecer ilegível, podem sempre tentar ler mesmo no blog. Qualquer coisa, digam.)

Desassociar “prazer” e “gastar dinheiro”

Uma ideia de que me tenho apercebido nos últimos tempos é o facto de que, para muitos de nós, o conceito de prazer parece estar inseparavelmente ligado a gastar dinheiro.

Vemos isso de várias formas: seja o “andei o semestre inteiro a poupar, merecia uma recompensa/mimo” (frequentemente dito para justificar o desaparecimento dessa poupança…), seja o “poupar? só temos uma vida, quero é vivê-la ao máximo“, seja a simples associação dos conceitos de poupança e frugalidade a deprivaçãosacrifício.

Daí que para tanta gente — e incluo-me a mim até recentemente: fui um péssimo exemplo até há uns meses… — poupar é tão difícil: cada vez que conseguimos resistir a uma tentação e não compramos algo, custa mesmo, é um sacrifício que estamos a fazer; podíamos estar a sentir-nos felizes nesse momento e não estamos.

Neste artigo, que já tinha mencionado num comentário ao meu post sobre o factor galão, vi esta parte que acho que diz muito (desta vez em português):

Alguns descartam o factor galão porque querem “aproveitar” a vida. Ouço frequentemente que a “a vida é curta” e que devemos “viver no presente.” Esses clichés, sem dúvida, têm alguma verdade. Porém, raramente ouço pessoas dizer, “A vida é curta, vou ler um bom livro” ou “A vida é curta, vou passar tempo com a família.” Por alguma razão, estes clichés são sempre utilizados para justificar gastar dinheiro.

Acho que a parte importante dessa citação nem é tanto o factor galão propriamente dito, mas sim a rejeição, da parte do autor, da associação implícita entre “aproveitar a vida” e “gastar dinheiro”.

Desassociar essas coisas não é, provavelmente, nem fácil nem rápido, sobretudo depois de décadas em que na nossa mente estiveram sempre interligadas, mas parece-me um óptimo passo no bom caminho — não apenas para mudarmos os nossos hábitos para melhor, mas também para não sofrermos com isso. É por isso que, na minha opinião, poupançafrugalidade não são a mesma coisa; a primeira é algo que fazemos, mas a segunda é uma forma diferente de pensar. A primeira pode significar que achamos que “precisamos” das coisas mas (com sacrifício) resistimos; a segunda é apercebermo-nos de que na verdade vivemos bem sem certas coisas 1, que elas no fundo não nos fazem tão felizes como isso.

Indo mais longe, diria que na maioria dos casos o “prazer” de se comprar coisas é apenas momentâneo — e não, não me estou a referir somente a gastar dinheiro em comidas, bebidas, etc., mas também a coisas que levamos para casa. 🙂 Podemos julgar que algo — seja um novo par de sapatos ou um novo BMW — nos vai dar bastante prazer durante um bom tempo, mas na verdade adaptamo-nos rapidamente a isso, o nosso nível de felicidade volta a como estava antes de se ter esse algo, e depressa estamos a precisar de outra “dose” de compras. Sim, a comparação com o que estão a pensar é intencional. É assim que funcionamos, infelizmente. (Mais sobre isto no eventual post sobre adaptação hedónica…)

Resumindo:

  1. se poupar é para ti um tremendo sacrifício, que sentes que te faz “não viver a vida”, vê lá bem se não associas (mesmo que inconscientemente) “prazer” e “gastar dinheiro”;
  2. se sim, faz por desassociar essas duas coisas. Não só poupar deverá ficar bastante mais fácil (tornando-se até natural), como provavelmente vais conseguir descobrir outras alegrias mais duradoras. Sugiro ler, ouvir música, passear (mesmo que a pé), ou conviver com pessoas interessantes, mas aqui cada um saberá de si. 🙂

Desculpem o tamanho do post. 🙂 Opiniões?

Eu e a Feira do Livro

A 88ª Feira do Livro de Lisboa está a decorrer (até 13 de Junho), e tenho visto vários blogs (incluindo um que vou mencionar no fim do post) a referir como não perdem uma, como adoram ir lá, etc.. Ora, eu não penso ir (como já não vou há anos), se bem que em criança (as in anos 80… ouch!) ia lá todos os anos com a família, e queria aqui divagar um pouco sobre o porquê.

Antes de mais nada, não estou a dizer a ninguém para não ir, ou que é má ideia ir, ou o que quer que seja! Se gostam de ler e/ou da Feira, vão, divirtam-se, aproveitem, sejam felizes, etc.. 🙂 Este post é apenas sobre as minhas razões — de certa forma, é um post mais pessoal do que a maioria deles aqui no blog. Nada aqui são conselhos ou sugestões, OK?

Então vamos lá. Eu nisto 1 sou estranho: adoro ler, mas a feira do livro actualmente apela-me pouco, por várias razões:

  1. prefiro ler as coisas na língua original, se possível, e quase tudo o que leio é de autores anglo-saxónicos, logo as traduções portuguesas interessam-me menos. Sim, sei que não há só coisas em português na Feira, mas há de ser a maioria. Digo o mesmo em relação a livrarias físicas, já agora;
  2. antes de me decidir pela compra de um livro gosto de ver opiniões, críticas, etc., o que tenho imediatamente disponível numa Amazon ou Goodreads, mas não na Feira (ou numa livraria). Bem, nada me impede de parar tudo na Feira (ou livraria) e aceder a esses sites no telemóvel, mas acho que só acabaria por demorar e complicar mais: a cada livro que me parecesse vagamente interessante, “deixa cá ver na net…“;
  3. tenho centenas 2 de livros em árvores mortas em casa, mas nos últimos anos passei a preferir cada vez mais os ebooks, não só para não ocupar espaço (e algumas árvores poderem suspirar de alívio) e acumular menos pó em casa, mas também para os ter sempre comigo — todos eles, não apenas um ou dois — onde quer que esteja. E, mesmo em relação a ebooks…
  4. … o meu tempo livre com os olhos ocupados (conduzir, caminhadas, etc.) é actualmente muito superior ao tempo livre com os olhos disponíveis, pelo que actualmente ando mais virado para audiobooks e podcasts — até já comprei, várias vezes, audiobooks de livros que já tinha (sim, também comprados) como ebooks ou em árvores mortas, só para os poder acabar em dias, em vez de meses;
  5. devido à minha emocionante saga financeira, neste momento tudo o que compro em termos de livros (ou audiobooks) é sobre finanças e desenvolvimento pessoal (em vez de entretenimento) — o que imagino (se bem que não vou lá há décadas) ser menos frequente na feira, que sempre me pareceu mais virada para romances e afins;
  6. ir a uma feira de coisas de que em geral gosto só causaria tentações. Se estivesse em dieta, não iria passear nos meus restaurantes preferidos, pois não? 🙂
  7. o acto de “ir a lojas” (neste caso uma feira, mas também aplicável a centros comerciais, etc.) pode ser “entretenimento” para muita gente (“estás stressado/a? anda comigo às compras, e isso passa-te já!“), mas, como disse num post recente, para mim isso só tem três resultados possíveis: ou 1) saio de lá sem vontade de comprar nada, o que significa que foi completamente aborrecido; ou 2) saio de lá com vontade de comprar uma ou mais coisas, mas resisto, e por isso saio frustrado; ou 3) cedo à tentação e gasto dinheiro que não era suposto gastar, em algo de que não preciso (se só comprei por ver na loja, é porque vivia bem sem isso). Todos esses resultados são negativos;
  8. a minha fila de espera de coisas para ler já é colossal; não faz sentido comprar coisas que só farão essa fila crescer ainda mais;
  9. já mencionei que estamos em época de alergias, e aquilo é ao ar livre? 🙂
  10. … além de que também não sou grande fã de multidões. 🙂

Mas isto sou eu, claro. Repetindo-me: não estou a sugerir a ninguém que não vá. Quem for, aproveite! 🙂

(Nota: este post é uma expansão de um comentário que fiz no blog Diário de uma jovem assalariada.)

Melhorias financeiras desde a criação do blog (e não só)

Este post está escrito de uma forma mais informal, já que começou por ser uma lista somente para consumo próprio. Essa lista foi também iniciada antes de alguns dos últimos posts, pelo que terá uma correcção ou duas — que, pela piada da coisa, decidi deixar ficar. E, por último, o título do post engana um pouco, já que a primeira metade dele é sobre coisas que já fazia antes de começar este blog. Mas, vamos lá…

Já fazia (antes do blog):

  • nada de lanches (em casa ou fora)
  • nada de pequenos-almoços (excepto um café com leite, em casa)
  • nada de idas ao café
    (nada disto foi por razões financeiras, já agora — são mesmo hábitos que adquiri — ou, melhor dizendo, que deixei — com a idade.)
  • evito conduzir (sobretudo em cidades, filas, etc.)
  • já não saio à noite há anos (até devia fazê-lo uma vez ou outra, acho)
  • não fumo, nem consumo… coisas menos legais (bebo álcool, porém)
  • em termos de supermercados: compro sobretudo produtos brancos
  • bebo, e sempre beberei (excepto em certos sítios estranhos, tipo Alentejo, onde ela tende a saber mal) água da torneira
  • não deixo (sempre que me lembro, pelo menos — às vezes ainda escapa alguma coisa) luzes acesas, torneiras abertas, etc. mais do que o necessário (antes era comum deixar uma luz acessa “porque daqui a uns minutos volto”)
  • compro e bebo café para máquina de balão (em vez de cápsulas). Às vezes, por preguiça, até recorro ao café solúvel (que é ainda mais barato, mas acho que só é “bebível” com leite e afins — porém, serve bem para o café (com leite) da manhã)
  • cancelei várias assinaturas: wall street journal, financial times, humble bundle, big fish games, várias revistas (de videojogos, história, etc.)
  • quase nunca compro roupa; em geral só substituo coisas que se estraguem (por acaso até precisava de comprar alguma; já só tenho coisas com vários anos)
  • empregada: não é regular, e só a chamo muito raramente (frequentemente menos que uma vez por mês). Não, não é viável cancelar, eu sou mesmo muito mau em “lidas da casa”, se bem que sou razoável a manter as coisas vagamente aceitáveis por bastante tempo
  • não compro “brinquedos” novos (PCs, tablets, telemóveis, consolas, etc.) há vários anos
  • centros comerciais, e lojas em geral, são de evitar, já que só há três resultados possíveis: ou 1) saio de lá sem vontade de comprar nada, o que significa que foi completamente aborrecido; ou 2) saio de lá com vontade de comprar uma ou mais coisas, mas resisto, e por isso saio frustrado; ou 3) cedo à tentação e gasto dinheiro que não era suposto gastar, em algo de que não preciso (se só comprei por ver na loja, é porque vivia bem sem isso). Todos esses resultados são negativos.

Comecei com o blog:

  • nada de jogos fora do “plano” (Tempest 4000, expansão do Darkest Dungeon, conta VIP no MPQcortei este último, também)
  • não compro mais de um ebook por mês (e actualmente só sobre finanças pessoais, self-improvement, etc.)
  • não compro audiobooks fora da assinatura do Audible (há imensos podcasts grátis, pá! sobre tudo!), e limito esses também aos géneros mencionados no ponto anterior, por enquanto
  • tudo muito mais controlado em termos de comics (só mantenho uma ou outra assinatura), apps (nenhuma compra há um bom tempo, nem há planos para mais no futuro próximo), etc.
  • parei de investir no ETFmatic (primeiro acabar com as dívidas, depois logo se vê)
  • mandei vender os investimentos no ETFmatic (idem) para pagar mais dos cartões de crédito
  • cancelei mais umas assinaturas

A pensar para o futuro (isto é muito por alto, para já):

  • ir a pé para o trabalho mais uma vez ou outra? É melhor esperar que a época das alergias acabe…
  • no restaurante habitual ao pé do trabalho, passar a comer, pelo menos ocasionalmente, “só o prato”, sem bebida, sobremesa ou café? (bom para a saúde, também…)
  • comer carne menos vezes? substituir pelo quê? feijão? (hamburgers de soja e outros substitutos de carne são, em geral, mais caros… a ideia aqui é reduzir gastos sem prejudicar a saúde, não é tornar-me vegan)
  • passar a assinatura do office 365 de mensal para anual (20€ a menos, por ano)?
  • ver que outras assinaturas daria para cancelar? Já tratei de um bom número…
  • tentar reduzir os serviços de telecomunicações contratados (cancelar serviços tipo TV Cine, quando praticamente só vejo Netflix? Baixar a velocidade da internet?)

Blog #2: No More Harvard Debt

Hesitei em incluir este blog já no #2 desta série, porque 1) é relativamente “avançado” em termos do desafio quase extremo de frugalidade que o autor fez a si mesmo (e do qual esteve à altura), o que pode de alguma forma ser desmoralizador para certos tipos de pessoas 1, e 2) eu próprio ainda não o “acabei” (só vou em Dezembro, 4 meses depois de o blog começar). Mas achei-o tão inspirador (e desafiante), que não resisti a partilhá-lo já.

O blog, portanto, chama-se No More Harvard Debt, e começa em 2011, com este personagem, nos seus 20s, recém-formado na Harvard Business School, e com um bom emprego, mas com um empréstimo estudantil de cerca de $90K. Ele decide, então, desafiar-se a pagar todo esse empréstimo em 10 meses, custe o que custar… e o blog vai contando as peripécias dele ao longo desses 10 meses.

Entre outras coisas, ele:

  • levanta todas as poupanças-reforma que tinha (mesmo com a penalização por as levantar antes dos 60) e usa-as para pagar logo uma boa parte da dívida;
  • “desliga” as contribuições automáticas para essas poupanças, também (nos EUA a maior parte dos empregadores oferece essa possibilidade, e até contribuem com um equivalente (até certo ponto) da parte deles, pelo que em situações normais faz todo o sentido contribuir o máximo que se pode… mas não nesta situação. Incidentalmente, vejam o meu post das “despesas semanais” amanhã…);
  • aluga 2 quartos da sua casa a completos desconhecidos;
  • vende a mota e um dos carros (tudo já pago, mas já com uns bons anos — ele consegue $10K por ambos, no total);
  • consegue uma promoção no trabalho;
  • experimenta vários “segundos empregos”;
  • reduz o orçamento mensal de entretenimento de mais de $1000(!) para $50-$100;
  • passa a levar um “flask” de whisky ao sair à noite com os amigos, passando a pedir só Coca-Colas (ele é um tipo mais extrovertido e bastante “social”, e escolhe não deixar completamente de sair), além de habituar os amigos à ideia de que não há cá rodadas pagas (nem as aceita da parte deles);
  • falta a vários casamentos de amigos e colegas (por implicarem viagens grandes, prendas, etc.);
  • saídas com o sexo oposto passam a ser bastante mais raras: não sei se parte disso vem da cultura ultra-consumista dos EUA, mas segundo ele a maior parte das mulheres americanas nos 20s não está muito virada para “ei, vamos fazer uma caminhada?” como primeiro encontro 🙂 , está à espera de coisas mais tradicionais — e mais caras.

E isto é até onde já li (Dezembro, como disse acima); de certeza que há mais mudanças para vir. O blog tem a particularidade de ter princípio, meio e fim (spoiler: ele consegue pagar tudo nos 10 meses propostos), e faz uma boa história; ele ainda postou mais umas vezes depois de acabar o desafio, mas só muito esporadicamente (o último post, neste momento, é de 2016).

Acho que é uma história inspiradora, se bem que pode até “assustar” um pouco, como disse no início; faz com que sintamos que ainda não fizemos “nada” em termos de poupanças. Por exemplo o meu próprio auto-desafio, de pagar <3500€ de dívidas de cartões de crédito até Novembro, é uma piada ao pé do dele — é algo que provavelmente daria para concluir um ou dois meses mais cedo, com mais dedicação e, sim, sacrifício.

Claro que (lá vêm as desculpas 🙂 ) algumas coisas nesse blog só se aplicam aos EUA, e outras só ao caso específico dele (nos 20s e com toda a energia e tempo livre dessa idade, MBA, bom emprego, zero dívidas (fora a casa) além dos tais empréstimos estudantis, 3 veículos pagos na garagem, e uma personalidade extrovertida.) Por exemplo, não me imagino mesmo a alugar quartos na minha casa: já tenho outro tipo de vida, além de precisar muito do meu espaço, privacidade, etc.. Segundos empregos (com horários) também não me parecem viáveis, mas posso (e quero) aumentar o rendimento dos meus vários projectos. Ainda tenho de ver o que posso vender (carros, motas e afins não há, mas tenho de ir explorar a arrecadação). Aumentos, só mudando de emprego, mas por outro lado dou muito valor ao facto de trabalhar ao pé de casa, poupando imenso em termos de tempo, gasolina e stress. E assim por diante.

Enfim. Se querem ver como foi possível pagar $90K em 10 meses, e todas as peripécias passadas (e ele faz várias coisas que não resultam, não dão em nada, ou até são contra-producentes, acreditem — está longe de ser um caminho perfeito), e querem ler isso como uma história (ou pelo menos uma colecção de “entradas de diário” — já parece um dos meus livros preferidos de sempre 🙂 ), recomendo vivamente este blog — comecem pelo primeiro post, e vão usando os links de “post seguinte” 2. Eu, pelo menos, estou a gostar (cada dia tenho lido mais uns posts, por ordem cronológica, normalmente à noite). 🙂

O factor galão

Galão
Imagem: Ondřej Žváček

O factor galão (ou latte factor, em inglês 1 — ou fator galão segundo o Acordo Ortográfico) é o termo que o autor David Bach (O Milionário Automático, etc.) arranjou para a ideia de que pequenos gastos no dia-a-dia não são desprezáveis e podem, ao longo do tempo, fazer uma diferença enorme na situação financeira de cada um — mesmo parecendo “tão pouco”.

Quantas pessoas conhecemos — e talvez nos possamos incluir a nós próprios nelas — que saem de casa em jejum (ou quase), chegam de manhã cedo ao trabalho, e depois vão logo a seguir para o café mais próximo, porque “antes do café, não me digam nada!“, onde, além de um galão (lá está) ou semelhante, não dispensam um croissant, ou um queque, ou um pastel de nata, ou uma sandes. Possivelmente levam mais qualquer coisa para o meio da manhã e/ou para a tarde, isso se não voltarem ao café às 11 da manhã para o “segundo pequeno-almoço” 2. Provavelmente comem pouco ao almoço (afinal, quem é que tem fome tendo comido há relativamente tão pouco tempo?), por isso pelas 16h a fome regressa e, caso não tenham já comprado o lanche de manhã, não dispensam voltar ao café, onde vai mais um bolo, sandes, café, galão, cappuccino, etc..

O problema é que esses pequenos-almoços e lanches são tudo menos baratos… e, no fim do mês, fazem diferença. É fácil uma pessoa gastar 4 ou 5 euros de cada vez (possivelmente até mais), o que, duas vezes por dia, em 20 dias úteis, dá uns 200€ por mês — 300€ se a pessoa não dispensar as idas ao café também nos fins de semana.

Pensem um pouco, se quiserem — sobretudo se o que ganham vos chega “à justa” — em como um aumento de 300€ líquidos poderia facilitar as vossas vidas. Em como cada mês poderia ficar bastante mais folgado. Em como poderiam, todos os meses, poupar mais, ou pelo menos pagar dívidas mais depressa. Pensem no que teriam de fazer, nos vossos trabalhos, para conseguir das chefias um aumento tão significativo, ou — caso recebam em função do trabalho produzido — quantas mais horas teriam de trabalhar todos os meses, para ganhar essa quantia adicional.

E isso é só num mês. Em um ano, seriam 3600€ a mais. Em 10 anos (mesmo sem contar com ganhos de investimentos, que não seriam de se deitar fora), 36000€, obviamente — o que já daria, provavelmente, para eliminar grandes problemas da vida… ou ficar um ano ou dois sem trabalhar, para experimentar criar o próprio negócio, ou simplesmente descansar uns tempos. Ou, simplesmente, para aproximar a independência financeira em 36000€.

Agora, de certeza que alguns dos leitores/as estão a pensar “sim, isso é tudo muito bonito, mas o galão e os bolos são dos grandes prazeres da minha vida, são o que me permite aguentar o dia-a-dia; eu sei que se cortasse poupava dinheiro, mas não teria uma vida que consideraria suportável. (E quem és tu para falar, que já disseste aqui que almoças ao pé do trabalho todos os dias?)

Ao que eu respondo… tudo bem. Não estou aqui para — nem é o objectivo do blog — julgar ninguém (eu próprio já me julgo a mim próprio demais, acreditem). Como se falou recentemente nos comentários aqui, cada um tem os seus próprios valores, as suas próprias prioridades, e tem de decidir por si próprio até onde ir, em termos de poupança — o que é que lhe é “vital”, e o que lhe é apenas “desejável”. E eu próprio (e talvez isso mereça outro post no futuro) sou a favor de se maximizar a relação dinheiro poupado/intensidade do sacrifício, pelo que se têm outra coisa em que podem poupar mais e/ou “sofrer” menos com a alteração… força, vão por aí. E se depois disso quiserem/precisarem de poupar ainda mais, voltem a olhar para esta questão (ou para qualquer outra) — o “ganho” será menor e/ou o sacrifício será maior, mas mesmo assim pode valer a pena. Ou não.

A ideia deste post, portanto, é apenas chamar a atenção de que gastos regulares deste tipo são, ao longo do tempo, muitas vezes bem maiores do que podem parecer à primeira vista. No caso do “galão” (ou, mais precisamente, as idas ao café, duas vezes por dia), conheço efectivamente quem 1) tem esse hábito, e 2) queixa-se do estado das suas finanças, e provavelmente dava tudo para ter mais 300€ por mês… mas não vê a ligação entre as duas coisas.

(E, sim, no meu caso também posso fazer melhor (não nas idas ao café, que já não existem, mas noutras coisas) — tenho de ver onde “atacar”.)