Dica anti-consumismo: antes de comprar algo (não essencial), imaginar o prazer que isso irá trazer

Isto não é, obviamente, “rocket science”, nem foi inventado por mim… mas é das coisas que, comigo, costuma resultar melhor, para resistir a tentações de comprar coisas de que não preciso realmente (normalmente lúdicas, mas imagino que se aplique a “luxos” em geral).

A dica é simples: antes de comprar X, imagina o prazer/alegria que esse X te irá dar no futuro (imediato, próximo e distante). Fá-lo de forma tão honestarealista quanto possível. Assumindo que compras esse X hoje, imagina-te amanhã, imagina-te daqui a uma semana, daqui a um mês, um ano. Ainda vais estar a usar/tirar prazer disso?

Usando esta técnica, noto que frequentemente me apercebo de um ou mais dos seguintes:

  • o meu desejo actual não passa de curiosidade, que, se comprasse a coisa agora, satisfaria em minutos;
  • não vou, realisticamente, usar/querer saber disto daqui a uma semana, muito menos daqui a meses;
  • muitas vezes nem me imagino a usufruir disto amanhã. Então, de onde é que vem essa tentação toda? Pois… 🙁
  • já tenho coisas quase iguais, compradas há tempos, ainda nas embalagens (ou o equivalente digital), o que faz com que o destino provável desta seja o mesmo (e se me apetecesse realmente uma coisa deste tipo, exploraria essas que já tenho);
  • nem faço realmente tenções de usar isto; simplesmente, sinto-me em baixo por alguma razão, e estou a tentar “enganar” essa tristeza comprando algo (esta tentação ainda me é muito frequente: “estou triste, mereço um mimo“… mas já aprendi em geral a reconhecê-la e a não lhe ceder tão facilmente);
  • com o mesmo dinheiro, poderia comprar algo (em geral numa área completamente distinta da vida) que me daria muito mais alegria por muito mais tempo (ei, comprar coisas que realmente nos vão fazer felizes não é nenhum “pecado”), e/ou de que estou realmente a precisar;
  • o mesmo dinheiro poderia ser usado para pagar dívidas, poupar, investir, etc., o que teria um efeito positivo muito maior, e duradouro, na minha vida do que este objecto lúdico pelo qual me sinto tão tentado.

E é isto. Claro que somos todos diferentes, mas noto que, comigo, imaginar a alegria que algo me vai dar — tanto imediatamente a seguir à compra, como nos dias seguintes — em geral impede-me de fazer alguns disparates. Aliás, ainda hoje de manhã, antes de sair de casa, isso aconteceu. 🙂

Dica anti-consumismo: criar um “exército” de “mimos”

Provavelmente estarão a achar o título deste post um bocado… estranho. 🙂 Mas passo a explicar.

Um dos grandes problemas — se não o maior dos problemas 1 — quando se quer poupar mais é o consumismo, que é basicamente o que nos leva a gastar dinheiro em coisas de que não precisamos, e que nos vão dar pouco ou nenhum prazer na vida (mas possivelmente bastante stress, quando depois olhamos para a conta bancária e as coisas que ainda faltam pagar…).

Mas o que é que nos leva a agir de forma consumista? Afinal, não me parece que alguém decida, conscientemente, “vou comprar coisas de que não preciso (e que nem vou usar) para depois andar mais stressado com a vida“, não é? Pensando um pouco na questão, e simplificando muito, eu diria que há duas grandes razões que levam uma pessoa a ser consumista:

  1. ostentação / competição com outros (família, amigos, colegas, vizinhos, etc.);
  2. vontade de darmos a nós próprios um “mimo”.

Relativamente à primeira dessas razões, não vou aprofundar aqui (pelo menos neste post); acho que é daquelas coisas que uma pessoa ou vê como um problema e faz por resolver (o que é feito 100% dentro da sua cabeça), ou então escolhe continuar a achar que isso é “a ordem natural das coisas”, e a definir a sua auto-estima pelo preço das coisas que compra.

A sugestão neste post dedica-se a lidar com a segunda razão. Muitas vezes gastamos dinheiro em coisas que, nos nossos momentos mais racionais, admitimos perfeitamente que não nos fazem falta, ou das quais não temos tempo para fazer uso; que vão ficar na prateleira ou no armário, ou então (no caso de guloseimas) na barriga durante umas horas, somente porque na altura nos sentimos um pouco mais “em baixo”, ou mais sozinhos, ou aborrecidos, ou estivemos a fazer alguma coisa que nos tenha custado 2, e achamos que merecemos um mimo, uma recompensa, uma novidade na nossa vida.

E, note-se, não estou a dizer que nunca nos devemos tratar bem; há alturas em que isso faz todo o sentido. Mas acredito que na maioria dos casos não estamos realmente a querer a coisa nova propriamente dita (para se fazer uso da mesma), apenas queremos aquele prazer momentâneo que temos ao 1) ter um “brinquedo” novo, e/ou 2) gastar dinheiro (o que nos faz sentir que temos poder de compra e decisão).

E eu próprio já fui culpado disto no passado, e ocasionalmente a tentação ainda surge (no meu caso, mais no sentido de “deixa-me ir à loja online de X e ver o que é que está lá em promoção” — o que é sempre uma péssima ideia: afinal, isso é admitir que não queremos nada específico, apenas queremos gastar — ou seja, consumir). E, como não somos robots totalmente imunes a tentações, eventualmente descobrimos/inventamos truques para cortar o mal pela raiz.

No meu caso, o que resultou e continua a resultar bastante bem foi aquilo que menciono no título: criar um “exército” de “mimos” (ou fontes de alegria), de forma a poder recorrer a eles quando tiver o tipo de estados de espírito que antes levariam a querer comprar coisas/gastar dinheiro. Sejam livros, videojogos, música, comics, sítios por onde gosto de passear, companhias, 3 gatos altamente ronronantes, um hobby ou dois, fóruns sobre temas que me interessam com conteúdo novo todos os dias… tudo isso me serve para quando estou mais em baixo, ou preciso de alguma novidade na minha vida, de explorar algo que não conheço. E, em geral, sem gastar dinheiro — ou, se é gasto, é em algo que sei que me vai dar prazer, e que vai ser meu (para todos os efeitos) “para sempre”.

E mesmo isso está, em geral, controlado. Por exemplo, adoro ler, desde criança, e isso continua a ser um dos grandes prazeres na minha vida. Mas, sei lá, depois de se ter bem mais de 100 livros na fila de espera, a compra de novos (excepto em casos muito raros) acaba por não ser a pensar em lê-los, mas apenas em tê-los — ou, mais precisamente, em sentir que os tenho… o que, mais uma vez, é consumismo.

Mas, apetece-me ler um livro novo? Tenho imensos por onde escolher. Estou aborrecido e aparentemente sem nada para fazer? Olha, tantos livros (jogos, comics, etc.). A vida anda mais difícil, e sinto que já não me “mimo” há algum tempo? Olha, tantos livros para ler… por onde começar? 🙂

Aqui devem estar a pensar: “espera aí, tanta coisa contra o consumismo, mas isso tudo custou-te dinheiro, também!“. Sim, e, pior, admito que uma boa parte da quantidade destas coisas que actualmente tenho veio de consumismos passados. 🙁 Mas o importante é que parei — e, vá lá, tive mesmo assim o juízo suficiente para comprar coisas que 1) não envelhecem (ler pela primeira vez um livro comprado em 1991 não é pior do que ler um de 2018), e 2) das quais eu realmente gosto; não foi algo só para me sentir bem uns segundos. E tenho/há não sei quantas coisas não-materiais, também.

Resumindo isto tudo (e realmente foi extenso…): a forma melhor de evitar gastar dinheiro porque sentimos que merecemos/estamos mesmo a precisar de um “mimo” é, parece-me, ter já um monte de “mimos” na nossa vida (em casa, etc.) aos quais recorrer. E esses “mimos” nem têm, necessariamente, de ser coisas compradas, ou novas, ou objectos físicos.