Pagar dívidas: por que ordem? (parte 1: a teoria)

Primeiro, uns “disclaimers”:

  1. as sugestões que se seguem dedicam-se sobretudo a quem tenha dívidas de vários tipos (créditos, cartões, casa, etc.) e queira resolver essa questão. Para quem não tenha dívidas desses tipos (como me parece ser o caso da maioria dos leitores/as actuais deste blog): parabéns! 🙂 Mas talvez o post seja útil a outras pessoas que conheçam nesta situação — estejam à vontade para o partilhar;
  2. vou assumir que o destinatário acabou de “ganhar juízo”, de se aperceber do buraco que são as suas dívidas (sobretudo os juros das mesmas), e decidiu acabar com elas tão rapidamente quanto possível, usando todo o dinheiro que consegue dispensar, e isso depois de ter passado a ter uma vida frugal, sem desperdícios, sem luxos, sem dinheiro mal gasto, etc.. Ou seja, não vou abordar aqui a frugalidade; ela já está assumida;
  3. os vários guias deste tipo, na internet e em livros, normalmente recomendam que se comece por juntar um fundo de emergência, em geral equivalente a 2 ordenados, ou 2000€ (o que for maior). No meu caso específico, sei que numa emergência “real” (saúde, etc.) eu posso contar com a família, e custa-me continuar a desperdiçar 100€ ou mais por mês em juros, por isso estou a deixar a criação desse fundo para depois de “limpar” os cartões de crédito (que, como estou farto de mencionar aqui, deverá ser em Novembro). Nada disto deve ser encarado como uma recomendação de adiar a criação desse fundo, obviamente;
  4. não estamos nos EUA, por isso provavelmente não vou ser processado por não incluir algo tipo “isto não são conselhos financeiros, são apenas para propósitos de entretenimento; se precisar de conselhos financeiros consulte alguém com licença para isso, etc. etc.” no post, mas… tudo isto são só a) sugestões, e b) o meu melhor entendimento do que aprendi e li nos últimos meses sobre estes assuntos.

Tudo isto, e ainda não começámos, não é? 🙂 OK, vamos lá.

Primeiro a teoria — que de certa forma é mais ou menos “senso comum”: reduzir os gastos ao máximo de forma a se poder viver com o mínimo possível, opcionalmente acumular um fundo para emergências (ver o ponto 3, acima), depois usar o que vai sobrando todos os meses para pagar tudo o que se puder (acima do mínimo) das várias dívidas “más” (cartões de crédito e outros créditos), e eventualmente elas vão acabar. No meio, pode-se continuar a tentar reduzir ainda mais os gastos regulares (atenção às pequenas coisas do dia-a-dia, elas podem pesar mais do que se julga), e, se possível, arranjar outras fontes de rendimento para juntar ao ordenado.

Mas, por que ordem pagar as dívidas? Aqui há duas correntes de pensamento: a “bola de neve“, popularizada por Dave Ramsey, em que se começa pela dívida menor (e que, portanto, pode ser “limpa” mais rapidamente), independentemente dos juros, pagando o mínimo 1 nas outras até a menor estar totalmente paga. De seguida, passa-se à segunda menor, e assim por diante.

A alternativa é normalmente descrita como “avalanche“: pagar primeiro a dívida com juros mais altos, independentemente da quantia devida. Depois vem a que tiver os juros maiores das restantes, e repete-se até não haver nenhuma.

Penso que não será difícil de ver que, assumindo disciplina perfeita em ambos os casos, o método “avalanche” é, a longo prazo, o mais eficiente, no sentido em que se acaba, no total, por se pagar menos dinheiro em juros — se bem que a diferença é em geral relativamente pequena. Por outro lado, nós não somos robots; a componente psicológica não pode ser ignorada, e o método “bola de neve” permite ter a sensação de “yay, eliminei (mais) um crédito!” 🙂 mais cedo, e mais frequentemente. Essa sensação sabe muito bem, e pode ser altamente motivadora.

(Só para complicar, não tenho estado actualmente a seguir nenhum destes métodos à risca, já que pago mais que o mínimo em cada cartão, mas o foco é aquele com os juros maiores — que também é aquele com a dívida maior. Mas já a reduzi bastante nos últimos meses, e é para continuar. Portanto, estou mais próximo do método “avalanche”, mas estou a fazer por reduzir os outros também de forma “palpável”, em vez de me focar 100% num. De qualquer forma, é provável que ajuste isto nos próximos tempos.)

Como este post já vai um bocado longo, deixo o exemplo prático que queria dar (de alguém fictício, com números para o seu ordenado, dívidas, etc.) para a parte 2, num post seguinte. 🙂

A seguir: parte 2: um exemplo prático.

  1. ou, mais precisamente, o mínimo que cobre os juros — há cartões de crédito em que o pagamento mínimo é inferior aos juros da dívida actual, e dessa forma ao pagar-se o mínimo a dívida aumenta — obviamente, não queremos isso, nunca. Muito cuidado com essa armadilha.

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