Maximização da relação poupança/sacrifício

Já mencionei por alto este conceito uma ou duas vezes aqui no blog; é altura de um post mais detalhado sobre isso, por isso vamos lá:

Maximização da relação poupança/sacrifício 1 é a ideia de que, ao se tentar reduzir os gastos, faz sentido começar pelos que vão fazer “maior mossa” no total das despesas regulares — e com o menor “custo” na nossa alegria de vida.

Por outras palavras: quando alguém decide passar a poupar (seja para pagar uma dívida, seja para juntar para alguma coisa, seja por qualquer outra razão), em geral começa por ver onde pode cortar. Coisas supérfluas e mais caras são em geral as primeiras; depois, se necessário e/ou desejado, começa-se a cortar em coisas que nos fazem mais falta e/ou que não custam assim tanto dinheiro. Isto é algo que em geral fazemos “em cima do joelho”, não estamos a fazer nenhum tipo de cálculos ou listas. Desta forma, é bem provável que as coisas que nos vêm primeiro à cabeça para cortar não sejam as mais “eficazes” em termos de poupança. A minha ideia é tentar fazer isto de uma forma ligeiramente mais pensada — sem entrar em grandes formalismos ou matemática, coisas que não são tanto o meu forte.

Se pensarmos uns segundos em coisas que poderíamos alterar na nossa vida para reduzir gastos, de certeza que nos virão várias coisas bem diferentes à cabeça:

  1. umas que teriam algum efeito, mas “nem pensar”;
  2. outras que se suportavam bem, mas a poupança seria insignificante…
  3. … e, idealmente, algumas que estão no ponto certo: até se conseguia sem grande sacrifício, e a poupança seria “palpável”.

Mas o mais provável é que, se já começámos a poupar há algum tempo, já não nos venha (facilmente, pelo menos) à cabeça nenhuma coisa do 3º tipo.

Então, como determinar onde é que é mais “eficiente” atacar a seguir? Isto vai ser super-básico, foi o que acabou de me vir à ideia, e sem dúvida que é possível fazer bem melhor… mas vamos lá:

  1. faz uma lista das coisas que te vêm à cabeça para alterares na tua vida, de forma a poupar (deixar de consumir X, deixar de pagar por Y, etc.). Inclui mesmo as “nunca na vida”, por enquanto (já lá vamos);
  2. numa folha (ou .txt, ou .xlsx, ou onde quiseres), ordena as “coisas” por ordem decrescente de poupança (ou seja, pondo no início o que permitiria poupar mais);
  3. noutra folha (ou .txt, ou…), ordena as mesmas coisas, mas desta vez por ordem crescente de sacrifício/stress/como lhe quiseres chamar. Ou seja, começa pelas coisas mais fáceis/menos stressantes;
  4. em cada uma das folhas, trata a posição como o número de “pontos”: 1 ponto para a que ficar em primeiro, 2 pontos para o 2º lugar, etc.. Soma os pontos de cada uma das ideias em ambas as folhas (ex. se a alteração X é aparece em 2º lugar na primeira folha, e em 4º lugar na segunda folha, a pontuação dela será 2+4 = 6 pontos.
  5. como deve ser óbvio neste momento, os pontos aqui são “maus” — vêm de poupar menos, ou de nos custar mais. Portanto, vamos ordenar a lista de ideias, numa terceira folha (ou .xlsx, ou…) pelos pontos de cada ideia (da soma das duas primeiras folhas), por ordem crescente (i.e. menos pontos no topo).
  6. o resultado indicará, por alto, a ordem mais lógica das alterações a fazer na vida, estando no início as coisas que permitem poupar mais com menos sacrifício, e no fim as que provavelmente “não valem o esforço”, por assim dizer.

No fim, e assumindo que se está a levar a poupança a sério, vai-se pôr outra questão: onde parar? Ou seja, já temos a ordem, já sabemos onde “atacar” primeiro, mas eventualmente (depois de “limpar” as primeiras coisas da lista) chegar-se-á a um ponto em que a poupança será mínima e o sacrifício será significativo. Deve-se continuar? Isso deixo, obviamente, a cada um. 🙂 Só sugiro que, depois de certo ponto da lista, é bem possível que o nosso tempo e esforço possam ser (mesmo falando somente em termos financeiros) melhor empregues…

Já agora, a maior parte das alterações não têm de ser “binárias”; isto é, se, por exemplo, se achares que o que poupavas em cortar completamente os cafés da manhã não compensa o facto de eles te fazerem imensamente bem “à alma”, então talvez possas chegar a um meio-termo, em que só vais parte dos dias da semana, ou bebes o café mas não comes nenhum bolo, ou coisa parecida.

No meu caso, por exemplo, não estou mesmo nada virado para trazer marmita de casa (algo que em termos das listas anteriores teria muitos pontos em termos de sacrifícios/stress — acreditem), mas posso, no restaurante, passar do menu prato+bebida+sobremesa+café para o simples prato — não só pouparia 2€ por dia, como seria bom para a saúde. Um dia ou outro apetece-me mesmo a refeição completa? Sem problemas, desde que seja esporádico, e não 90% das vezes. 🙂

(Muitas vezes, em determinadas áreas, também é possível conseguir o equivalente por muito menos dinheiro, ou até mesmo de graça, mas isso foge ao âmbito deste post.)

  1. pensei noutros nomes para isto, tipo substituir “maximização” por “optimização”, ou “sacrifício” por “aumento de stress”, mas, para já, ainda acho que esta versão é a que melhor define a coisa — por exemplo, “optimizar” uma relação pode querer dizer várias coisas, mas “maximizá-la” só pode significar aumentar o numerador e/ou diminuir o denominador… bah, não liguem, isto é o meu lado “picuinhas”. :)

2 comentários em “Maximização da relação poupança/sacrifício”

    1. Certíssimo, mas, para já, podemos pelo menos tentar começar por onde dói menos e/ou faz mais efeito.

      Usando exemplos exagerados: deixar de comprar jóias caras para impressionar os vizinhos há de doer menos (e fazer melhor às finanças) do que passar um ano a comer só feijão em lata com arroz. 😀

      Quanto à poupança estar, invariavelmente, aliada ao sacrifício… bem, isso não tem de ser assim (se bem que eu próprio ainda estou longe de ultrapassar completamente essa questão, mas hei de lá chegar). Mas os posts sobre frugalidade (que não é sacrifício) e adaptação hedónica (um conceito fascinante de que só ouvi falar há poucos meses) ainda estão para vir. 🙂

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