Dollar Cost Averaging (DCA): vantagens e desvantagens

Dollar Cost Averaging (DCA) é, na sua definição mais simples, o acto de se comprar, ao longo do tempo, um valor fixo de algo (ex. acções, ETFs) periodicamente (normalmente, todos os meses), o que faz com que, para todos os efeitos, se esteja a comprar isso ao preço médio, em vez do preço num único momento no tempo. Por exemplo, se todos os meses comprar 200€ da acção X, uns meses isso compra-me mais unidades dessa acção (quando ela está mais barata), outros meses compra menos (quando está mais cara), e ao longo de um período mais longo (por exemplo, um ano) é como se se tivesse comprado a dita pelo preço médio da mesma durante esse ano.

Mas noto (por exemplo, em grupos de FIRE portugueses, e não só) que há por vezes uma mistura entre dois tipos de DCA, aos quais eu chamo necessáriointencional, e que é importante distinguir:

  1. DCA necessário: é quando se faz investimentos periódicos fixos porque é isso que temos para investir. Por exemplo, se decidirmos que, todos os meses, investimos 10% do ordenado, ou investimos um valor fixo como 200€, estamos para todos os efeitos a fazer DCA — uns meses, esses 10%/200€ compram mais (por estar mais barato), outros compram menos (por estar mais caro), portanto ao fim de 1 ou 2 anos o “preço” que se pagou pelas acções (ETFs, etc.) foi a média durante esse tempo. Como a tendência a longo prazo é subir, em geral ganha-se dinheiro assim, sem problemas. E isto é (ou deve ser) automático, ou seja, não há cá preocupações com “bull markets”, “bear markets”, ou qualquer outro tipo de “market timing”.
  2. DCA intencional: acontece quando temos um valor relativamente grande para investir (por exemplo, uma herança, uma venda de uma casa ou carro, um bónus, etc.), e decidimos investir esse valor… mas temos (sobretudo se estivermos num “bull market”) o (já mencionado aqui) terror pervasivo e constante de que as bolsas estão caras!!!, e de como é possível investirmos, sei lá, 100K€ hoje, e depois amanhã os mercados caem 20%, e a sensação vai ser horrível!!! Sendo assim, achamos que mais vale jogar pelo seguro e dividir esse investimento por uns 12 ou 24 meses (ou até mais), investindo um valor 1/12 ou 1/24 dele todos os meses, garantido assim que somos menos afectados pela volatilidade, e que se houver uma queda “cedo” nesse período de 12 ou 24 meses, a maior parte das acções que compraremos será a um preço menor.

Parece fazer sentido, não é? Afinal, se o histórico de uma acção/ETF tem este aspecto:

Bull market

parece óbvio que está “cara”, e que o mais provável é haver em breve uma correcção que a faz descer.

Mas, na verdade, fazer DCA intencional é uma má aposta, e vamos ver porquê:

  • é vantajoso se os mercados caírem (e ficarem “caídos” por muito tempo), mas é desvantajoso se eles subirem (nesse caso, teria sido melhor investir a quantia toda no dia 1);
  • a tendência dos mercados, a longo prazo, é sempre a subida;
  • a tendência dos mercados ao longo de cada ano é também subir (por exemplo, nos 34 anos entre 1986 e 2019, os mercados subiram em 28 dos anos, e desceram em 6, o que quer dizer que em 82% dos anos subiram, e em 18% desceram);
  • por outras palavras, ao fazer DCA intencional, estamos a apostar em algo menos provável do que o seu oposto, enquanto ao comprar já o que podemos estamos a apostar em algo bem mais provável (a subida das bolsas);
  • … e, como se isso não bastasse, ao adiar os investimentos, estamos a sacrificar os dividendos que receberíamos (tanto na conta no caso de acções individuais ou ETFs distributivos, como na subida do valor do ETF no caso de um acumulativo) se tivessemos um valor bastante maior investido desde o início. Isto é válido sempre, quer as bolsas subam ou desçam;
  • é “market timing”, o que por si só já produz em geral piores resultados do que “time in the market”, e…
  • … aumenta a complexidade de investir (que deve, idealmente, ser algo simples e automático).

Em resumo: DCA intencional é apostar em algo que é ao mesmo tempo menos provável, e menos vantajoso caso se realize. É uma má aposta, que até pode ocasionalmente resultar (da mesma forma que muito raramente alguém ganha imenso dinheiro com raspadinhas ou Euromilhões, mas isso não faz com que gastar o ordenado inteiro em raspadinhas ou no Euromilhões seja boa ideia), mas mesmo assim é melhor fazer boas apostas. 🙂 E é importante também controlarmos os nossos medos, em especial ligados à volatilidade: afinal, não se perde realmente dinheiro por as acções descerem temporariamente, só se perde se as vendermos depois de caírem (e antes de recuperarem). Vou falar mais disso num post futuro sobre o livro “The Psychology of Money”, mas a volatilidade dos mercados deve ser vista como uma taxa ou custo — o preço que pagamos para ganhar dinheiro com a bolsa — e não como uma multa (algo que significa que fizemos algo de errado, e que é como um castigo).

Se quiserem mais detalhes sobre porque é que DCA intencional é uma má aposta, o JL Collins (autor do excelente livro The Simple Path to Wealth) fala disso aqui.

Há alguma vantagem (afinal, o título do post menciona essa possibilidade) em fazer DCA intencional? Só uma, na minha opinião: se uma pessoa não conseguir, de forma alguma, ultrapassar os seus medos relativos a uma possível queda logo a seguir a ter investido uma grande quantia, então fazer DCA intencional, sendo pior do que investir a totalidade no dia 1, é mesmo assim muito, muito melhor do que não investir de todo. E, se for a única forma de o conseguirem fazer, não há que ter vergonha disso — afinal, não somos robots.

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