Divagação: o que eu faria com X€ “a mais”?

Só pela piada da coisa (sonhar é bom, não é?):

  • se tivesse 1000€ “a mais”: pagava mais 1000€ do cartão de crédito com os juros mais elevados;
  • se tivesse 5000€ “a mais”: pagava a totalidade das dívidas de cartões de crédito (actualmente pouco mais que 3000€), e provavelmente usava o restante para ficar como fundo de emergência. Ou isso, ou comprava o PC novo (uma coisa a sério, para jogos — não, não acabei de me contradizer –, à volta de 2000€) cuja compra ando a adiar há anos…
  • se tivesse 10000€ “a mais”: igual à anterior, mas comprava de certeza o PC, criava o fundo de emergência, e ainda teria uns 3000€ para, possivelmente, investir num index fund;
  • se tivesse 50000€ “a mais”: pagava os cartões e os créditos pessoais (incluindo o consolidado), comprava o tal PC, e os 14000€ restantes iriam para um index fund, provavelmente. Este valor, já agora, já me possibilitaria (sem ter prestações de créditos para pagar) viver sem trabalhar mais de um ano — ou seja, teria, pela primeira vez, o chamado dinheiro “Vai-te F…”, caso alguma vez fosse necessário;
  • se tivesse 100000€ “a mais”: de certa forma, mudava pouco em relação ao anterior, apenas teria, por ter mais investido, também mais dividendos e afins todos os meses, pelo que o dinheiro cresceria mais depressa 1. Talvez começasse a pensar em propôr no trabalho vir só 4 dias por semana (reduzindo o ordenado em 20%, naturalmente), ou (se necessário) a procurar outro trabalho em que isso ficasse assente logo na entrevista de emprego;
  • se tivesse 500000€ “a mais”: provavelmente “reformava-me” já. Não quer dizer que nunca mais fizesse qualquer tipo de trabalho remunerado, e obviamente que continuaria a tentar fazer crescer os rendimentos passivos, mas diria “adeus” a trabalhos tipo 9 às 18h, com chefias, horários, etc;
  • acima disso: igual ao ponto anterior, mas sem o “provavelmente”. 🙂

Notas: como o título do post diz, isto é uma divagação minha, não é nenhum guia para outros, nem é garantido que, se realmente me chegassem às mãos estas quantias, fizesse exactamente o que escrevi acima — se bem que seria, quase de certeza, algo bastante semelhante. E só se aplica, obviamente, à minha situação actual — por exemplo, daqui a uns meses já não terei dívidas de cartões de crédito para pagar. Por último, o “a mais” é mesmo isso: por exemplo, dinheiro que entrasse por fazer algum “biscate”, ou algum bónus no trabalho (se o meu trabalho tivesse tal coisa) — a origem não é aqui importante.

Consumismo

Consumismo pode ter várias definições diferentes, dependendo do contexto (económico, sociológico, etc.), mas, para efeitos deste blog, vamos restringir-nos ao contexto das finanças pessoais. Com esta limitação, eu definiria consumismo da seguinte forma: a necessidade, algo patológica, de gastar dinheiro e/ou acumular bens materiais, fazendo depois pouco ou nenhum uso deles.

Consumismo/Rat Race
Fonte: Polyp.co.uk

Obviamente que não há só um tipo de consumismo, nem só uma causa para o mesmo. Mas diria que a típica pessoa consumista satisfaz um ou mais dos pontos seguintes:

  • associa directamente a sua felicidade à quantidade — e preço — das coisas que possui (e, se se sente infeliz, acredita sempre que a próxima compra é que vai fazer a diferença);
  • sente prazer em comprar coisas/”ir às compras”, independentemente de ir ou não dar uso às coisas compradas, por estar, de certa forma, “viciada” na sensação momentânea de ter uma coisa nova e/ou gastar dinheiro (o que faz a pessoa sentir que tem “poder de compra”);
  • compra coisas de que não precisa e/ou que não lhe interessam particularmente, só para competir com vizinhos, colegas, etc. (o chamado “keeping up with the Joneses“) — não se pode ter um carro “pior” que os colegas ou vizinhos, por exemplo, mesmo que isso implique mais dívidas;
  • relacionado: ajusta as despesas ao ordenado actual (já que, ganhando mais, é “obrigatório” subir o nível de vida — afinal, “se não o fizer, para que é que foi o aumento?“);
  • ainda relacionado: compra a casa e/ou carro (e possivelmente outras coisas) mais caros para os quais consegue crédito (ou seja, se ganhando X se consegue, no máximo, crédito para uma casa de valor Y, então é “impensável” comprar uma casa que custe abaixo de Y);
  • poupar é-lhe extremamente difícil: a tentação de comprar coisas novas (de que não se precisa) e/ou gastar dinheiro (para a pessoa se sentir melhor por momentos) é constante e fortíssima, e resistir a essa tentação é visto como um sacrifício;

Como “resolver” o consumismo? Obviamente que não sou psicólogo, sociólogo, etc. mas acho que o primeiro passo é admitir que ele é um problema — o que não é tão óbvio como isso, já que muita gente (ver o cartoon acima) cresceu a acreditar que isto é “a ordem natural das coisas”, que o objectivo da vida é ganhar mais (trabalhando mais horas, se necessário, e dessa forma ignorando família, amigos, ou o próprio tempo livre/lazer/descanso/saúde) para comprar mais e mais coisas, repetindo até à morte por velhice — ou, mais provavelmente, por problemas cardíacos. Se no meio disso todo sentimos que falta algo na nossa vida, é só convencermo-nos de que quando comprarmos a próxima coisa é que seremos finalmente felizes.

Admitindo que existe de facto um problema, e querendo resolvê-lo (nada disto é garantido, mais uma vez), o passo seguinte será desassociar “prazer” e “gastar dinheiro” (ou “ter coisas novas”). Isso passa por olhar a sério para o prazer que tiramos das várias coisas na vida, por admitir que o prazer de comprar coisas (sobretudo coisas que depois não se usam) é momentâneo, e que há alegrias muito melhores na vida, sem ser “comprar mais”. Passa também por ganhar auto-estimaauto-confiança, de forma a estas não estarem dependentes da opinião dos outros sobre nós, o que nos liberta da “necessidade” de os impressionar com as nossas posses. Passa por visualizar o dinheiro como “tempo e energia de vida“, que eventualmente têm um fim, em vez de algo que se renova eternamente todos os meses — algo que, portanto, é limitado e precioso, e que por isso deveria ser usado para conquistar felicidade a sério, em vez de ser desperdiçado em acumulação de “tralha” — seja por prazeres efémeros, seja para impressionar pessoas fúteis, seja para “enganar” a auto-estima.

Rendimentos passivos

Rendimentos passivos, como o próprio nome sugere, são “coisas” que (potencialmente) nos proporcionam rendimentos mesmo sem estarmos activamente a fazer algo para isso. Outras características comuns a este tipo de rendimentos (se bem que não absolutamente essenciais) são: 1) normalmente implicam algum trabalho inicial (que pode consistir em algo tão básico como juntar muito dinheiro de outras fontes, como por exemplo o emprego actual), mas depois (se tudo correr bem) entra-se em “velocidade de cruzeiro”, só requerendo alguma atenção esporádica, e 2) mesmo considerando esse esforço e/ou investimento iniciais, em geral é possível começar sem deixar o emprego actual (já que não nos é exigido tempo, especificamente, no horário normal de expediente).

Rendimentos passivosAlguns exemplos (e isto não é uma lista exaustiva, é claro) de rendimentos passivos:

  • ter dinheiro a render juros — seja numa conta bancária (que acho que actualmente não rendem virtualmente nada), seja nalgum outro tipo de conta poupança, ou certificados de aforro, etc., seja em acções e/ou obrigações. Estas últimas não geram juros propriamente ditos, mas geram dividendos (que podem ser utilizados para gastos necessários, e/ou reinvestidos), além de a tendência, a longo prazo (mesmo com um crash aqui e ali) ser os valores irem subindo;
  • criar e publicar um livro, álbum de música, software, videojogo, etc.;
  • arrendar imóveis. Extremamente popular nos EUA, onde é viável comprar uma casa a crédito, restaurá-la um pouco, e depois arrendá-la por um valor bem maior que a prestação da hipoteca, e repetir; imagino que isto seja mais difícil cá em Portugal, mas também nunca investiguei realmente;
  • montar lojas online, se forem de produtos digitais (ou seja, não é necessário gerir inventário, envios, etc.), ou com a gestão da parte física contratada a terceiros (frequentemente, empresas chinesas, que fabricam e tratam do envio de produtos);
  • criar sites, ter sucesso, e monetizá-los através de publicidade: isto funciona para qualquer tipo de site (notícias, ferramentas, fóruns, blogs, disponibilização de conteúdos, etc.), desde que tenham sucesso razoável. Alguns tipos de site rendem mais que outros, mas acaba por ser tudo uma questão do número de visitas. Sim, eu tenho alguns (que não posso revelar para já: anonimato, e essas coisas, mas são sobretudo ferramentas/geradores), e, sim, eu penso postar mais em detalhe sobre esta questão.

Como disse, isto não é uma lista exaustiva; há inúmeras outras formas de — sem ter um segundo emprego, o que é um rendimento activo e não se inclui neste conceito — aumentar os rendimentos, sem grande esforço de manutençao (além do inicial).

A vantagem deste tipo de rendimentos é precisamente a sua passividade: ou seja, depois de termos um deles em “velocidade de cruzeiro”, podemos praticamente esquecê-lo (excepto, como disse antes, alguma manutenção esporádica, melhorias, etc.) e passar ao seguinte. E, com o tempo, estas coisas vão acumulando. Uma coisa que dê 50€ por mês, por exemplo, não nos permite deixar o emprego, obviamente, mas ainda são 600€/ano — mais do que um ordenado mínimo. E, acumulando com mais uma coisa que nos dê 25€/mês, outra que dê 70€, outra que ande “só” pelos 35€… como diz o cliché, o céu é o limite.

Adicionalmente, se os rendimentos passivos atingirem um certo ponto (ou seja, um valor substancialmente acima do total das despesas mensais obrigatórias), não só isso acaba por constituir uma forma de dinheiro vai-te F…, como até, no caso de estarem incluídas várias fontes relativamente estáveisduradouras (ex. imóveis), até pode ser possível antecipar a independência financeira — tendo sempre atenção à quantia já acumulada, e também aos valores dos rendimentos passivos, e tendo sempre em mente que, se estes começarem a baixar demasiado, é possível que seja necessário descobrir/criar novas fontes, ou até mesmo, se for caso disso, voltar a procurar emprego. Mas, claro, se a pessoa foi esperta, continuou a criar/aumentar fontes de rendimento passivos mesmo depois da “reforma” antecipada…

Gastos semanais: Semana #8 (23 a 29 de Junho de 2018)

Nota: como habitualmente, os valores em geral são arredondados.

Gastos na conta bancária:

  • 25€ – empregada
  • 44€ – seguro de saúde
  • 333€ – última prestação do carro

Nota: não incluo os pagamentos dos cartões de crédito, como mencionado na semana passada. Posso dizer que foi mais de 500€, e ainda falta um. 🙁 Claro que também recebi o ordenado e os lucros dos sites.

Gastos no cartão de refeição:

  • 38€ – 5 refeições

Gastos no cartão de crédito:

  • 23€ – assinatura (2 créditos) do Audible (audiobooks)
  • 8€ – comics assinados no Comixology
  • 10€ – asssinatura do Office 365

Resultados:

Gastos totais: 481€
Gastos em entretenimento: 31€ (6.4% do total).

Acho que foi aceitável. Se não fosse a prestação do carro, os gastos teriam sido “apenas” 148€, pelo que para o mês que vem será melhor. 🙂

Já agora… este é o 50º post! Nada mau para menos de 2 meses (o blog começou a 7 de Maio, acabei de ir ver). Eu sei, eu sei, é um post muito “normal”; vou tentar que o 100º seja mais “especial”. 🙂 E obrigado a toda a gente que lê e comenta. 😉

“Poupança”, e os vários significados da palavra

Vi há dias um post no blog “A teia dos 20 mais x!” que linkava para um artigo: Taxa de poupança das famílias diminui no 1º trimestre, e — talvez por ter alguma tendência para ser demasiado literal — a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “quer dizer que as pessoas estão a desperdiçar mais dinheiro“?

É claro (pensando uns segundos) que não é esse o significado; quer dizer apenas que estão a pôr menos dinheiro (relativamente aos rendimentos) em poupanças/contas de poupança. Mas fiquei a pensar em como o termo “poupança” pode ter vários significados; por exemplo:

  1. redução de gastos (corte de despesas desnecessárias, redução de outras, etc.);
  2. dinheiro posto de parte todos os meses (em envelopes, contas poupança, index funds ou outros investimentos, etc.)

Se eu participasse no inquérito que serviu de base para a notícia acima mencionada, apesar de ter feito bastante do ponto 1. (reduzi imenso várias despesas, sobretudo gastos “consumistas”, entretenimento, etc., além de ter cortado em várias despesas mais básicas/essenciais), eliminei nos últimos meses todos os tipos de poupança-de-acumulação enquanto não pagar (pelo menos) a totalidade dos cartões de crédito, por isso, pela definição 2., estou a “poupar” zero já há uns meses.

Portanto, a hipotética frase (algo sensacionalista, e eu sei que o artigo em si não diz exactamente isso) “ah e tal, os portugueses poupam cada vez menos” aplicar-se-ia a mim? Não sei; parece-me haver aí um pequeno julgamento de valor, tipo “se não poupas (as in todos os meses contribuir para uma poupança), és um consumista chapa-ganha-chapa-gasta“. Mas às vezes a poupança é de outro tipo, mais relacionada com a frugalidade e menos com a acumulação.

Incidentalmente, voltei a ler (para ser exacto, desta vez foi ouvir o audiobook) o livro “The Richest Man in Babylon”, e uma parte do mesmo refere-se ao pagamento de dívidas (de um personagem que, depois de fugir das mesmas, até passou uns tempos como escravo longe dali), e o plano que ele faz, e segue, inclui viver com 7/10 dos rendimentos, usar 2/10 para pagar dívidas (depois de falar com cada um dos credores e combinar com eles um pagamento lento mas regular de cada dívida — essa parte também é interessante noutros aspectos, incluindo a reacção dos vários credores, mas elaborarei mais isso quando falar do livro para os livros recomendados), e, por último, 1/10 para “guardar para si próprio” — ou seja, poupar (no sentido 2., do início do post).

Eu, no entanto, não estou a fazer isso, como já mencionei aqui no passado, já que 1) numa emergência séria tenho uma família que me poderá ajudar, 2) o emprego é estável e seguro (e tenho ofertas regulares no LinkedIn de outros sítios, caso precisasse), e, talvez o mais importante: 3) o dinheiro ainda devido gera juros, que pelos vistos não existiam na Babilónia antiga (o livro não os menciona, pelo menos nesse capítulo). 🙂 Cada mês a mais com dívidas de cartões de crédito é um mês em que desperdiço umas boas dezenas de euros (e já chegaram a ser bem mais de uma centena), pelo que neste momento prefiro mesmo pagar os ditos tão depressa quanto possível, mesmo que isso signifique que, para todos os efeitos, não há poupanças (pelo menos até Novembro ou isso).

Hmm, este foi dos posts mais “divagantes” que já aqui escrevi. 🙂 E, não, isto não é ainda o post (sobre poupança) para a série de conceitos.

Dinheiro “Vai-te F…”

O conceito de dinheiro “Vai-te F…” (em inglês, “F-you money“, ou “FU money” — e, sim, há quem escreva/diga a palavra toda, em vez de abreviar para a primeira letra…) foi popularizado em grande parte por Jim Collins, autor do livro The Simple Path to Wealth, e do blog jlcollinsnh.com. Ele refere, no entanto, que não foi ele que inventou o termo — este vem, supostamente, do livro Noble House (1981), de James Clavell 1.

F-youComo o próprio nome sugere, é dinheiro que uma pessoa pode usar (não quer dizer necessariamente que o faça) para, se necessário, sair de uma situação desagradável — normalmente um mau emprego ou um mau chefe, mas há outras possibilidades, como por exemplo maus clientes — sim, também é possível “despedir” clientes” –, ou mesmo situações não relacionadas com o trabalho (ex. viver em casa de pais (ou outros familiares) com comportamentos abusivos, que justificam os mesmos utilizando frases como “vives na minha casa, segues as minhas regras/fazes o que eu mando/comes e calas/etc.“). A ideia é uma pessoa dizer “não preciso disto2 e livrar-se rapidamente dessa situação, porque não está dependente do próximo ordenado para sobreviver o mês seguinte.

Note-se que o dinheiro para isto não é, nem de longe, uma quantia tão grande quanto o necessário para a independência financeira. Pode ser apenas o suficiente para se viver X tempo sem trabalhar — tempo esse que depende da tolerância ao risco de cada um. Por exemplo, ter o suficiente para viver 1 ano, ou mesmo somente 6 meses (incluindo o necessário para pagar o crédito habitação, se houver), já nos torna muito menos “dependentes” do emprego actual do que não se ter nada acumulado (e viver-se “ordenado a ordenado”, como infelizmente parece ser o caso de muita gente).

Outra vantagem de se ter este “poder de escolha”, mesmo sem se querer necessariamente sair de onde se está, é que, em qualquer trabalho, o empregador rapidamente se apercebe se estamos dependentes do mesmo ou não, e a tendência será tratar-nos de forma diferente. E, se estivermos insatisfeitos e quisermos que alguma coisa mude, temos muito mais poder de negociação, já que a possibilidade de mudança é muito mais viável.

Em resumo, o dinheiro “vai-te f…”, além de abrir novas possibilidades e acrescentar segurança à vida, permite que uma pessoa passe a estar em pé de igualdade com o empregador (e não só) — algo que devia acontecer sempre, mas na prática a tendência humana, infelizmente, é abusar de quem não tem alternativa e tem de se sujeitar.

Resumindo ainda mais: isto é desejável, mesmo para quem nunca tencione dizer “vai-te f…” a um chefe (ou a quem quer que seja). 🙂