Consumismo pode ter várias definições diferentes, dependendo do contexto (económico, sociológico, etc.), mas, para efeitos deste blog, vamos restringir-nos ao contexto das finanças pessoais. Com esta limitação, eu definiria consumismo da seguinte forma: a necessidade, algo patológica, de gastar dinheiro e/ou acumular bens materiais, fazendo depois pouco ou nenhum uso deles.
Obviamente que não há só um tipo de consumismo, nem só uma causa para o mesmo. Mas diria que a típica pessoa consumista satisfaz um ou mais dos pontos seguintes:
- associa directamente a sua felicidade à quantidade — e preço — das coisas que possui (e, se se sente infeliz, acredita sempre que a próxima compra é que vai fazer a diferença);
- sente prazer em comprar coisas/”ir às compras”, independentemente de ir ou não dar uso às coisas compradas, por estar, de certa forma, “viciada” na sensação momentânea de ter uma coisa nova e/ou gastar dinheiro (o que faz a pessoa sentir que tem “poder de compra”);
- compra coisas de que não precisa e/ou que não lhe interessam particularmente, só para competir com vizinhos, colegas, etc. (o chamado “keeping up with the Joneses“) — não se pode ter um carro “pior” que os colegas ou vizinhos, por exemplo, mesmo que isso implique mais dívidas;
- relacionado: ajusta as despesas ao ordenado actual (já que, ganhando mais, é “obrigatório” subir o nível de vida — afinal, “se não o fizer, para que é que foi o aumento?“);
- ainda relacionado: compra a casa e/ou carro (e possivelmente outras coisas) mais caros para os quais consegue crédito (ou seja, se ganhando X se consegue, no máximo, crédito para uma casa de valor Y, então é “impensável” comprar uma casa que custe abaixo de Y);
- poupar é-lhe extremamente difícil: a tentação de comprar coisas novas (de que não se precisa) e/ou gastar dinheiro (para a pessoa se sentir melhor por momentos) é constante e fortíssima, e resistir a essa tentação é visto como um sacrifício;
Como “resolver” o consumismo? Obviamente que não sou psicólogo, sociólogo, etc. mas acho que o primeiro passo é admitir que ele é um problema — o que não é tão óbvio como isso, já que muita gente (ver o cartoon acima) cresceu a acreditar que isto é “a ordem natural das coisas”, que o objectivo da vida é ganhar mais (trabalhando mais horas, se necessário, e dessa forma ignorando família, amigos, ou o próprio tempo livre/lazer/descanso/saúde) para comprar mais e mais coisas, repetindo até à morte por velhice — ou, mais provavelmente, por problemas cardíacos. Se no meio disso todo sentimos que falta algo na nossa vida, é só convencermo-nos de que quando comprarmos a próxima coisa é que seremos finalmente felizes.
Admitindo que existe de facto um problema, e querendo resolvê-lo (nada disto é garantido, mais uma vez), o passo seguinte será desassociar “prazer” e “gastar dinheiro” (ou “ter coisas novas”). Isso passa por olhar a sério para o prazer que tiramos das várias coisas na vida, por admitir que o prazer de comprar coisas (sobretudo coisas que depois não se usam) é momentâneo, e que há alegrias muito melhores na vida, sem ser “comprar mais”. Passa também por ganhar auto-estima e auto-confiança, de forma a estas não estarem dependentes da opinião dos outros sobre nós, o que nos liberta da “necessidade” de os impressionar com as nossas posses. Passa por visualizar o dinheiro como “tempo e energia de vida“, que eventualmente têm um fim, em vez de algo que se renova eternamente todos os meses — algo que, portanto, é limitado e precioso, e que por isso deveria ser usado para conquistar felicidade a sério, em vez de ser desperdiçado em acumulação de “tralha” — seja por prazeres efémeros, seja para impressionar pessoas fúteis, seja para “enganar” a auto-estima.