O conceito de dinheiro “Vai-te F…” (em inglês, “F-you money“, ou “FU money” — e, sim, há quem escreva/diga a palavra toda, em vez de abreviar para a primeira letra…) foi popularizado em grande parte por Jim Collins, autor do livro The Simple Path to Wealth, e do blog jlcollinsnh.com. Ele refere, no entanto, que não foi ele que inventou o termo — este vem, supostamente, do livro Noble House (1981), de James Clavell 1.
Como o próprio nome sugere, é dinheiro que uma pessoa pode usar (não quer dizer necessariamente que o faça) para, se necessário, sair de uma situação desagradável — normalmente um mau emprego ou um mau chefe, mas há outras possibilidades, como por exemplo maus clientes — sim, também é possível “despedir” clientes” –, ou mesmo situações não relacionadas com o trabalho (ex. viver em casa de pais (ou outros familiares) com comportamentos abusivos, que justificam os mesmos utilizando frases como “vives na minha casa, segues as minhas regras/fazes o que eu mando/comes e calas/etc.“). A ideia é uma pessoa dizer “não preciso disto” 2 e livrar-se rapidamente dessa situação, porque não está dependente do próximo ordenado para sobreviver o mês seguinte.
Note-se que o dinheiro para isto não é, nem de longe, uma quantia tão grande quanto o necessário para a independência financeira. Pode ser apenas o suficiente para se viver X tempo sem trabalhar — tempo esse que depende da tolerância ao risco de cada um. Por exemplo, ter o suficiente para viver 1 ano, ou mesmo somente 6 meses (incluindo o necessário para pagar o crédito habitação, se houver), já nos torna muito menos “dependentes” do emprego actual do que não se ter nada acumulado (e viver-se “ordenado a ordenado”, como infelizmente parece ser o caso de muita gente).
Outra vantagem de se ter este “poder de escolha”, mesmo sem se querer necessariamente sair de onde se está, é que, em qualquer trabalho, o empregador rapidamente se apercebe se estamos dependentes do mesmo ou não, e a tendência será tratar-nos de forma diferente. E, se estivermos insatisfeitos e quisermos que alguma coisa mude, temos muito mais poder de negociação, já que a possibilidade de mudança é muito mais viável.
Em resumo, o dinheiro “vai-te f…”, além de abrir novas possibilidades e acrescentar segurança à vida, permite que uma pessoa passe a estar em pé de igualdade com o empregador (e não só) — algo que devia acontecer sempre, mas na prática a tendência humana, infelizmente, é abusar de quem não tem alternativa e tem de se sujeitar.
Resumindo ainda mais: isto é desejável, mesmo para quem nunca tencione dizer “vai-te f…” a um chefe (ou a quem quer que seja). 🙂
- que, tal como o resto da “Asian saga”, está na minha fila de espera — adorei o Shogun, do mesmo autor
- o “vai-te f…” é opcional :)
Gosto do conceito.
Neste momento não, mas em tempos passados (não muito longínquos) já me apeteceu dizer um v… f**** ao dinheiro que recebia de salário e mais ainda ao chefe que tinha.
E disse. Não por estas palavras.
Acho que todos devíamos ter essa margem/montante para numa situação de exaustão, ou antes de chegar a esse extremo, virar costas e recomeçar. Seja em que área for (saída de emprego, saída de casa, etc, etc.).
Um conceito relacionado (que para já não vai ter um post próprio, mas talvez isso mude no futuro) é o de skills “vai-te F…”. A ideia é que a pessoa tem skills (e experiência/CV) tão procurados no mercado (e provavelmente recebe propostas de emprego a todo o momento) que, se sair de onde está de um momento para o outro (por causa de um chefe abusivo, mudanças desagradáveis na empresa, etc.), provavelmente arranja outro trabalho (possivelmente até com melhores condições) em pouquíssimo tempo.
Mesmo assim, recomendaria que a pessoa em questão 1) não tivesse dívidas, e 2) tivesse sempre algum dinheiro poupado, já que o emprego ideal pode acabar por demorar alguns meses a aparecer.