Juros compostos

“Juros compostos são a força mais poderosa no universo.”
— atribuído a Albert Einstein, se bem que ele provavelmente não o disse

Juros compostos

Juros compostos são um conceito que descreve a forma como, para algo (como uma poupança, ou um investimento) que receba juros após determinado período de tempo (normalmente um ano), nos períodos de tempo que se seguem (ex. anos seguintes) se recebe não só os juros propriamente ditos, mas também os juros dos juros, e os juros dos juros dos juros, e assim por diante. Este efeito (semelhante a uma bola de neve), para um período de tempo razoável, faz uma diferença muito maior do que pode parecer à primeira vista, e é algo que, bem aproveitado, pode mudar vidas.

Para demonstrar a força desse efeito, vamos imaginar uma personagem, chamemos-lhe Rita (já que o já fez o trabalho dele no passado), que decide poupar exactamente 100€ por mês (nada de transcendente, certo?), e fá-lo durante 20 anos. O resultado será este:

Poupança - 100€/mês
Poupança – 100€/mês

Nada que surpreenda, correcto? 100€/mês = 1200€/ano, multiplicado por 20 dá 24000€.

Mas vamos imaginar que o dinheiro acumulado pela Rita rende 5% ao ano 1. Quanto é que imaginam que a Rita terá no fim do mesmo período de tempo? Mais um pouco? Mais 5% ou isso? 10%?

Não, é “só” mais uns 65%:

Juros de 5% a 20 anos
Juros de 5% a 20 anos

Alguns reparos:

  • são precisos 7 anos para os juros acumulados renderem o equivalente a um ano de poupança (1200€)…
  • … mas só mais 2 anos (ano 9) para render o equivalente a outro ano;
  • entre os anos 9 e 15, os juros rendem outro ano de poupança de 2 em dois anos;
  • a partir do ano 16, rendem anualmente mais que os 1200€ poupados esse ano (e a crescer ano após ano). Se prolongássemos a experiência, no ano 24 os juros já renderiam acima do dobro do investimento (isto é, mais de 2400€/ano).

O aspecto disto? É assim:

100€/mês: com e sem juros
100€/mês: com e sem juros

Isto tudo, mais uma vez, com investimentos relativamente baixos (100€/mês). Assumindo que a Rita vai “subindo na vida” e aumenta as suas poupanças de forma correspondente, os resultados serão muito melhores.

Ah, e 5% é um valor conservador: como disse acima, a média histórica dos últimos 30 anos foi superior.

Reparem também que quanto mais tempo, maior é a diferença que os juros compostos fazem (eu prolonguei o gráfico até aos 27 anos precisamente para se ver bem essa diferença). Do ano 1 para o 2 a Rita ganha 60€ em juros; do ano 19 para o 20 ganha 1832€. Grande diferença, não? E isto sem nunca aumentar a poupança mensal de 100€. Daí que, para aproveitar ao máximo o poder dos juros compostos, convém começar o mais cedo possível. Ter começado lá para 1999 seria o ideal; caso não seja possível, então hoje será o melhor que se arranja. 🙂

Mini-novidade: blogs portugueses em “blogs sugeridos”

Já andava para o fazer há algum tempo, mas estava também a tentar criar uma lista com o último post de cada um, como os blogs no Blogger conseguem ter, na barra do lado.

Com o WordPress é um bocado mais complicado (não há nenhum plugin para isso que seja mantido e funcione com as versões mais recentes), não tendo ainda conseguido uma solução que me agradasse. Por isso resolvi não esperar mais (se bem que vou continuar a procurar/tentar “inventar”), e adicionei vários blogs portugueses relacionados, que sigo, à lista de “Blogs sugeridos“, no menu de topo. Se costumam comentar aqui, e têm um blog sobre finanças pessoais e afins, provavelmente já lá estão. 🙂 Essa lista é para ir crescendo no futuro, naturalmente.

A “magia” de poupar 50% do ordenado

Mencionei isto por alto num comentário recente, mas acho que merece um post dedicado. 🙂

Ao contrário da “sabedoria convencional” das finanças pessoais, que recomendam que se poupe 1 10% do ordenado, a comunidade de Independência Financeira sugere que se tente atingir os 50% de poupança (ou até mais, se possível!).

50%Naturalmente, parte da ideia é simplesmente aumentar a poupança (e a necessária frugalidade e/ou rendimentos) o mais possível, mas este valor — metade do que se ganha — tem outra particularidade, que passo a citar:

  1. Poupar 50% do que se ganha implica que se consegue viver com os outros 50%…
  2. … ou seja, quer dizer que em cada mês acumulamos o necessário para viver outro mês, sem quaisquer rendimentos. Quem diz mês, diz vários meses, ou anos.

Exemplificando com valores: se alguém ganha 2000€ e vive com 1000€, poupando os outros 1000 (como sempre, ignorem se estes valores são realistas; são apenas números redondos para simplificar), então os 1000€ que poupou já dariam para o mês seguinte, caso por alguma razão (intencional ou não) não entrasse qualquer dinheiro.

6 meses a viver com 50%, isto é, 1000€/mês, geram uma poupança de 6000€, que permite depois viver mais 6 meses sem trabalhar, assumindo que a pessoa continua a viver com os mesmos 1000€/mês. 2 anos a poupar 50% (24000€) permitem depois “descansar” (ou ir explorar outros projectos/oportunidades, sem medo de não ter como sobreviver entretanto) por outros 2 anos.  20 anos a poupar 50%… estão a ver a ideia?

Claro que tudo isto assume várias coisas: que tanto o ordenado como o custo/nível de vida (ou pelo menos a proporção entre ambos) se mantêm (o que raramente acontece, sobretudo quando o agregado familiar se altera), e que o dinheiro acumulado não rende nada mas também não perde poder de compra devido à inflação. Se estiver investido a render mais do que a referida inflação (e não há razão para não estar), o período de “consigo sobreviver sem entrar dinheiro” até será maior do que o de trabalho que o originou.

Caindo agora um pouco no “mundo real” — claro que, com os ordenados médios (já nem falando nos mínimos) em Portugal, e com o custo de vida que temos, poupar 50% não estará ao alcance de muita gente (se bem que é sempre bom poupar nem que seja alguma coisa), e não critico ninguém que não consiga, obviamente. Mas se for possível, com o tempo, ir aumentando a frugalidade e/ou os rendimentos (idealmente ambos), talvez a “magia” do “um mês de trabalho dá-me dois meses de vida” seja um bom incentivo para chegar, um dia, a esta percentagem. 🙂

Eu, se não tivesse os créditos para pagar, de certeza que conseguiria, com o que ganho e gasto actualmente… Enfim, lá chegarei.

Paga-te a ti próprio primeiro

Paga-te a ti próprio primeiro
Fonte: Flickr

Paga-te a ti próprio primeiro” é um conceito (ou conselho, se preferirem) já conhecido há anos — o livro “The Richest Man in Babylon”, de George S. Clason, já o menciona, e esse livro 1 foi publicado em 1926! — mas que, por outro lado, não acho que esteja tão divulgado como seria desejável; eu, por exemplo, no início de 2016 ainda não tinha ouvido falar nele… Enfim, mais vale tarde que nunca. 🙂

A ideia do conceito é que a maior parte das pessoas, incorrectamente, quando recebe o ordenado, começa por pagar as várias contas (electricidade, etc.) e outras despesas regulares — ou seja, está-se a pagar a outros –, e depois passa o mês a fazer os gastos habituais, e só depois disso, se sobrar alguma coisa, é que esse possível resto vai para a poupança e/ou investimento 2. Claro que o valor dessa poupança tende a ser nulo, já que, para a maior parte das pessoas, os gastos “essenciais” (que muitas vezes não passam de luxos) escalam em proporção ao dinheiro que entra. Por outras palavras, raramente “sobra” dinheiro no fim do mês, e depender dessas “sobras” para criar e fazer crescer um pé de meia, em geral, não resulta.

A alternativa, como deve ser óbvio neste momento, é pagarmo-nos a nós próprios primeiro. Isso implica determinar um valor (que pode ser fixo, tipo X€, ou uma percentagem do ordenado, como 10% — recomendo esta última alternativa, se bem que não necessariamente esse valor), e transferi-lo para a poupança, imediatamente após se receber. Idealmente até se automatiza esse processo, para evitar esquecimentos e/ou tentações. Deve-se ver isto como se fosse uma conta a pagar, tão obrigatória como qualquer das outras — de certa forma até é mais importante a longo prazo, já que servirá para melhorar a nossa vida, e não apenas para a manter como ela está.

Aqui, inevitavelmente, há quem diga algo como “sim, isso é tudo muito bonito, mas é para quem ganha bem! O meu ordenado mal me chega para o mês; já passo a última semana a contar os tostões, e ainda queres que lhe retire uma parte no início do mês?” A resposta a isso é dupla: em primeiro lugar, o facto de a pessoa viver todos os meses “à rasca” é precisamente uma indicação de que ela precisa de passar a ter um pé-de-meia, um fundo para emergências, coisa que obviamente não tem — e, numa emergência, isso pode ser catastrófico. Ou seja, para essa pessoa, poupar é ainda mais importante e urgente do que para alguém que já tenha poupanças razoáveis.

Em segundo lugar, o pagarmo-nos a nós próprios primeiro (tratando, mais uma vez, esse pagamento como uma conta a pagar obrigatoriamente) faz uso da capacidade de adaptação do ser humano. Já que (erradamente) aumentamos os nossos gastos quando temos mais, também é possível fazer o oposto e reduzi-los — mesmo coisas que pensávamos não ser possível reduzir — quando temos menos. Ou seja, uma coisa é dizer “não consigo viver com X-10%”, outra é só ter X-10% e a pessoa ter de se “desenrascar” — quando tem mesmo de ser, em geral arranjamos forma. Pode ser necessário algum esforço adicional e imaginação/novas ideias nos primeiros meses, no sentido de se aumentar a eficiência (por exemplo, procurar alternativas mais baratas, cancelar serviços que se usa pouco, etc.), mas depressa isso se torna um hábito, se torna o “novo normal”. E a vantagem disto é que, a cada mês, temos um pouco mais nosso — cada mês somos um nadinha mais “ricos”.

Como disse acima, recomendo que se tente poupar uma percentagem, em vez de um valor absoluto, já que assim a poupança mensal cresce em proporção à evolução na carreira. Para quem viva ordenado a ordenado, pode ser necessário começar com uma percentagem relativamente baixa, como 2-3%, até se aumentar a eficiência/frugalidade (e/ou os rendimentos). O George Clason recomendava, já há quase 100 anos, 10% como eventual percentagem mínima, tal como o David Bach o continua a fazer, mas há muita gente na comunidade FIRE (Financial Independence, Retire Early) a poupar 50% ou mais (o que, admito, é mais fácil com os ordenados americanos do que com os de cá…), o que pode permitir que uma pessoa se “reforme” depois de trabalhar menos de 20 anos. Espero um dia chegar a tais valores… ou ultrapassá-los, porque não. 🙂

Livro #4: The Compound Effect

Mais uma semana, mais um livro lido (ei, aceitei um desafio no Goodreads de ler 50 livros este ano 1, por isso até tenho algum atraso a recuperar 🙂 ), sendo este The Compound Effect, de Darren Hardy, publicado em 2012.

Darren Hardy - The Compound Effect

Hesitei (por alguns segundos 🙂 ) em fazer um post sobre este livro (e incluí-lo na lista de livros sugeridos do blog), já que ele não é tanto sobre finanças pessoais, investimentos, independência financeira, etc., mas sim sobre desenvolvimento pessoal. (E confesso que antes de o começar a ler, devido ao título, esperava que ele abordasse também o tema do efeito composto aplicado às finanças, mas o autor só menciona isso, perto do início, para dar um exemplo quantificado do poder desse efeito; o foco é mais nos nossos hábitos e “auto-superação”.)

Mas muito daqui pode ser, indirectamente, aplicado à melhoria das nossas finanças, no sentido de passarmos a ser melhores no que fazemos, melhorarmos a nossa saúde física, eliminarmos maus hábitos, etc., tudo isso podendo reflectir-se numa melhor evolução de carreira (e/ou criação e desenvolvimento de actividades paralelas/rendimentos passivos).

(Além de que — e isto ainda não sei se vai para a frente ou não — também já pensei em incluir algum desenvolvimento pessoal nos temas deste blog. Porque não? 🙂 Quem não se interessar, pode sempre saltar esses posts.)

Um exemplo que o livro começa por dar é a história de 3 amigos, que começam na mesma situação (mesma idade, mesma condição física, casados, etc.), mas um deles decide fazer pequenas alterações para melhor na sua vida: começa a ler 10 páginas de um bom livro por dia, ouve audiobooks ou podcasts educativos e/ou inspiracionais enquanto vai e volta do trabalho, corta umas 100 calorias por dia (ex. substituir um refrigerante por água), passa a andar mais uns 1000 passos por dia (por exemplo, dando uma volta ou duas a pé ao quarteirão ao fim da tarde). Tudo coisas simples, que não requerem esforço “heróico”.

O segundo amigo, por outro lado, comprou uma TV enorme para ver mais dos seus programas favoritos, e tem experimentado fazer em casa receitas que vê nos vários canais de culinária, sobretudo as sobremesas doces que tanto adora. E instalou um bar na sala, e adicionou uma bebida alcóolica por semana à sua dieta. Nada de especial; ele apenas se quer divertir mais um bocado.

O terceiro amigo, como devem estar a adivinhar, não muda nada na sua vida, deixando tudo como está.

O livro continua (e isto tudo é menos de um capítulo) a história dos 3 amigos ao longo do tempo; daí a 5 meses ainda não se nota grande diferença, nem após 10 meses. É só mais tarde que realmente se começa a notar alguma coisa: o primeiro amigo está mais elegante, enquanto o segundo está visivelmente mais gordo — a diferença de peso entre ambos é de mais de 30kg! E as diferenças vão para além do físico: tendo passado mais de mil horas (ao longo de mais de um ano) a ler bons livros e a ouvir audio sobre desenvolvimento pessoal e de skills, o primeiro conseguiu uma promoção no trabalho. O segundo amigo, por outro lado, tem cada vez menos energia, o que faz com que ao chegar a casa não consiga fazer mais nada do que ver TV até dormir. Isso começa a criar problemas no casamento, já que ele e a mulher já nunca fazem nada (incluindo isso) juntos…

O terceiro amigo, naturalmente, não está tão mal como o segundo, mas queixa-se de que nada muda na vida dele… 🙂

E há muito mais: auto-melhorias, organização da vida, registo dos progressos, que tipos de pessoas procurar, e que tipos evitar, etc..

Isto já vai longo, por isso vou tentar limitar as citações (tenho 67… medo!  🙂 ). Como sempre, tradução minha:

  • “O Efeito Composto é o princípio de se obter enormes ganhos graças a uma série de pequenas escolhas inteligentes.”
  • “O aspecto mais desafiante do Efeito Composto é que temos de trabalhar por algum tempo, de forma eficiente e consistente, antes de começarmos a ver resultados.”
  • “Tudo na tua vida existe porque começaste por fazer uma escolha sobre algo. As escolhas são a raiz de cada um dos teus resultados. Cada escolha dá início a um comportamento que com o tempo se torna um hábito. Escolhe mal, e podes dar contigo de volta à posição de partida, forçado a fazer novas e mais difíceis escolhas. Não escolhas de todo, e fizeste a escolha de ser receptor passivo de tudo o que venha na tua direcção.”
  • “O teu problema não é teres estado a fazer más escolhas intencionalmente. Isso seria fácil de resolver. O teu problema é que tens navegado pelas tuas escolhas como um sonâmbulo. Metade das vezes, nem tens noção de que as estás a fazer!”
  • “Quando a maioria das pessoas decide atingir novos objectivos, começam por perguntar ‘OK, tenho o meu objectivo, agora o que é que tenho de fazer para o alcançar?‘ Não é uma má pergunta, mas não é a primeira questão que precisa de ser abordada. A pergunta que nos devemos fazer é: ‘Quem é que eu tenho de me tornar?
  • “Se queres ter mais, tens de te tornar mais. O sucesso não é algo que se persegue. Aquilo que persegues vai fugir de ti; é como tentar agarrar borboletas. O sucesso é algo que atrais sendo a pessoa que te tornas.”
  • “Nunca vais mudar a tua vida até mudares algo que fazes todos os dias. O segredo do teu sucesso está na tua rotina diária.”
  • “Deves criar um programa que consigas seguir por cinquenta anos, não por cinco semanas ou cinco meses.”
  • “Se queres que o teu corpo atinja o máximo da sua performance, precisas de ter atenção de forma a consumires os nutrientes da melhor qualidade e evitares ‘junk food’. Se queres que o teu cérebro atinja o máximo da sua performance, tens de estar ainda mais atento à alimentação do mesmo.”
  • “[…] somos a média combinada das cinco pessoas com quem passamos mais tempo.”
  • “Já deves estar ciente disto: há pessoas de quem podes precisar de te afastar. Completamente. Pode não ser um passo fácil de tomar, mas é essencial. Deves fazer a escolha difícil de não permitir que certas influências negativas te continuem a afectar. Determina a qualidade de vida que queres ter, e de seguida rodeia-te de pessoas que representam e suportam essa visão.”

(Nota: tal como em relação aos outros livros, é só clickar na capa dele para ir à página sobre o mesmo na Amazon. O link não é de afiliado; se isso se alterar no futuro, esta mensagem será alterada.) 

Acumulação vs. Investimento: mês #1

Este formato ainda pode mudar, mas para já…

Meses de acumulação e investimento: 1

Acumulação: 100%

Investimento: 102.33%, dos quais 0% 1 são resultado de dividendos.

Nada de especial, para já. Como já disse várias vezes, o tempo “interessante” mede-se em décadas, não em meses; a ideia desta série é mais mostrar como isto “não morde”.

De certa forma, quase que até gostava que houvesse uma correcção (que para todos os efeitos é uma versão “soft” de um crash de bolsa), para se ver durante uns tempos o valor dos investimentos abaixo do valor acumulado… só para posteriormente se constatar como estas coisas acabam sempre por recuperar e até ultrapassar o valor de topo do passado. Além de que nessas alturas, para todos os efeitos, está-se a comprar acções “em saldo”. 🙂