Um ponto em relação ao qual discordo com os autores/as de alguns blogs de finanças pessoais (e por acaso ainda há dias tive a mesma discussão — no bom sentido, claro 🙂 — com o meu irmão) é a minha posição na eterna guerra “gastar menos vs. ganhar mais“. Ou seja, há quem pareça achar que as finanças pessoais começam e acabam com a poupança (no sentido de reduzir gastos, não no sentido de acumular poupanças (em contas de poupança e afins)), tratando o dinheiro que entra como algo fixo e imutável. Sendo assim, então realmente a única forma de melhorar as finanças é gastar menos…
Mas, naturalmente, eu acho que isso não tem de ser assim (nota: não estou, obviamente, a julgar ninguém). Reduzir gastos é importante, diria até vital, e deve ser o primeiro passo em qualquer jornada financeira… mas não me parece que deva (na maioria dos casos) ser o último (ou o único) passo. Afinal, a redução de gastos, por definição, tem um limite: não é possível reduzir os gastos em mais de 100%… e mesmo esse valor já implicaria não ter quaisquer despesas, o que não é propriamente possível (a não ser sendo-se totalmente dependente de alguém).
Por exemplo, uma pessoa (sem dependentes) que ganhe 800€ líquidos e viva normalmente com 800€ 1 vive, quase de certeza, acima das suas possibilidades, não tem fundo de emergência, poupanças, etc. (e provavelmente tem dívidas, também, mas não vamos por aí agora). O que é que ela pode reduzir nos gastos? Provavelmente algumas centenas de euros, começando por cortar no mais fácil/óbvio, passando depois ao mais difícil, e eventualmente fazendo os cortes mais “sacrificantes” para reduzir alguns euros. Mas a pessoa vai sempre precisar de X para viver (mesmo que quase a “pão e água”) — ou seja, a melhoria financeira está sempre limitada, nesse caso, a 800-X€. Depois disso não há melhorias — além de que implica esforço/sacrifício contínuo.
Ao invés disso, a melhoria que se pode, hipoteticamente, obter aumentando os rendimentos é, teoricamente, ilimitada. Além de aumentos, promoções, mudanças de emprego e afins, uma pessoa pode sempre, supostamente, arranjar/inventar projectos, part-times, biscates, rendimentos passivos, etc., e em certos casos é possível que a soma dessas coisas ultrapasse o ordenado propriamente dito.
E com isto já escrevi bem mais do que queria, no que era suposto ser uma introdução. 🙂 Anyway, a minha ideia é alguns dos próximos posts serem sobre as minhas tentativas/ideias de aumentar os meus rendimentos — o que já fiz no passado, o que estou a tentar agora, e ainda o que penso fazer no futuro. Serão em grande parte divagações pessoais, mas se forem úteis e/ou inspirarem outras pessoas, melhor ainda. 🙂
Olá!
Antes de mais, parabéns pelo blogue. É dos que eu mais aprecio, conteúdo excelente e aprende-se sempre alguma coisa.
Além disso, foi uma inspiração para criar o meu blog e recuperar objetivos esquecidos.
Em relação a este assunto particular… Concordo absolutamente contigo. Por exemplo, neste momento vou registar os meus gastos e sei que depois vou, obviamente, poupar uns trocos. Mas temos sempre gastos fixos que levam a que os ganhos não sejam assim tantos. O meu objetivo será pagar primeiro as dívidas e depois investir… Mas às vezes acho que deveria investir ao mesmo tempo (seja em hobbies lucrativos, investimentos financeiros…). A ver vamos!
Obrigado. 🙂 Fico feliz por ser útil. Fazer um blog (eu sou da velha guarda e não escrevo normalmente “blogue”, mas ambas as formas estão correctas, não estou a corrigir, OK? Também ainda não adoptei o acordo ortográfico…) pode ser útil para nós próprios, seja pela questão de nos auto-organizarmos e registarmos ideias e o sucesso maior ou menor das mesmas, como pelas ideias que recebemos em comentários, como pelo simples facto de, se “postamos” de forma honesta os nossos gastos, acabamos por conter atitudes mais impulsivas (tipo “podia comprar isto, mas depois vou ter de partilhar…”).
Simplificando muito, se temos dívidas com juros altos (tudo acima dos de um crédito habitação), convém pagá-las antes de se pensar em investir (nem sempre agi assim, o que já me prejudicou no passado). Mas isso é só a questão de investir dinheiro; não há mal nenhum (muito pelo contrário) em estarmos constantemente a investigar/inventar formas de possivelmente aumentar os rendimentos (e reduzir gastos). E ler/ouvir sobre o assunto também ajuda, não só a motivar-nos como também a dar ideias; eu, por exemplo, gosto de ouvir podcasts sobre finanças e desenvolvimento pessoais ao fazer caminhadas.
De resto, boa sorte. 🙂
Ainda estou a entrar neste mundo, pelo que ainda estou a aprender. Vou ser sincera: não sei quase nada sobre créditos habitação (e tenho 3, dois deles não foram feitos por mim). O meu marido diz que não vale a pena amortizar porque os juros são baixos mas eu sou apologista de, simplesmente, não os ter. Mas o blog vai servir também para aprender, além de me organizar.
Obrigada e continua com conteúdo de valor.
A questão de amortizar ou investir depende, acho eu, da comparação dos juros/retornos prováveis do investimento. Ou seja, se podes investir com um retorno médio de 5% (o que não se consegue em nenhum tipo de conta-poupança, mas é possível na bolsa), mas as tuas dívidas têm juros de 10% (ex. cartões de crédito), faz todo o sentido pagá-las primeiro. Se por outro lado os juros da dívida andam à volta de 1 ou 2%, talvez seja melhor investir o dinheiro, assumindo que se consegue em média os tais 5%.
Se investir não é uma opção (é algo volátil e que envolve sempre risco, e nem toda a gente está para aí virada), e considerando que os juros de contas-poupança são praticamente nulos hoje em dia (em geral abaixo da inflação, até), suponho que o melhor é amortizar os créditos, se bem que não é preciso usar todo o dinheiro possível para isso, acho eu — pode-se usar algum também para aumentar a qualidade de vida. 🙂 Mas nunca contraindo novas dívidas, obviamente.
Talvez não se aplique bem ao teu caso, mas já espreitaste esta série de posts? 🙂