Tempo OU dinheiro?

Imagina que algum excêntrico te dá a escolher entre as duas hipóteses seguintes:

  1. recebes 1000€, mas tens de o gastar em menos de uma semana, em entretenimento. Ou seja, não podes poupar, investir, pagar dívidas, usar para bens de primeira necessidade, doar, contribuir para uma causa, guardar para pagar e/ou incrementar as próximas férias, etc.; só entretenimento agora (o que inclui, entre outras coisas: livros, cinema, guloseimas, spas, roupas “bonitas”, refeições fora, passeios, viagens, eventos culturais, eventos “radicais”, gadgets (telemóveis, tablets, computadores, consolas, etc.), jogos, etc.), ou:
  2. não recebes nada, mas podes tirar a próxima semana de férias (sem que isso “consuma” os dias de férias já marcados).

Qual escolherias? Eu passei a maior parte da minha vida virado para a 1, mas…

Há pouco, ao pensar em questões tipo: o que é que me faz feliz; o que é que me fazia falta agora, etc., dei por mim — e isto é bem diferente do “eu” dos últimos 25 anos ou isso — a responder: não é tanto dinheiro, mas sim tempo. Porque já tenho imensas “coisas” (em casa e não só); não tenho é tempo para as explorar. E com os 1000€ do exemplo, não poderia fazer mais do que comprar mais “brinquedos” (nos quais incluo livros, jogos, etc.) para adicionar às imensas filas de espera que já tenho.

O que me falta não é dinheiro (nem o que se compra com 1000€ ou isso), é tempo. Tempo para mim: para descansar, relaxar, fazer o que quiser (e não fazer o que não quiser), explorar o que já tenho, estar livre do stress do “amanhã é dia de trabalho“, nem que seja só por algum tempo.

Voltando, então, à pergunta inicial: actualmente escolheria a opção 2, sem hesitação.

Interiorizar isto, de certa forma, ajudou-me recentemente a ficar muito menos consumista, e mais frugal: não há nenhum interesse neste momento em comprar grandes “brinquedos”; há, sim, em conquistar tempo livre para explorar os que já tenho (e outras coisas, tipo passear, ir de férias, etc., sem passar tudo a correr, sem estar a contar os segundos até ao próximo dia de trabalho). E isto pode ser conquistado com dinheiro… só que os valores estão numa escala diferente. (E, claro, é tudo impensável enquanto houver dívidas, mas isso é outra história.)

Adoraria, e espero, chegar eventualmente à independência financeira — o que vai implicar inventar novas fontes de rendimento. Mas, até lá, em qualquer altura, o bem mais precioso a conquistar é, para mim, tempo livre. O que até não é impossível (ex. negociar um horário reduzido, com remuneração igualmente reduzida)… mas para isso já teria de estar livre de dívidas.

Bem, falei de tudo e mais alguma coisa, neste post. 🙂 Desculpem tanta divagação. 😉

13 comentários em “Tempo OU dinheiro?”

    1. Isso é batota (inclui-se no “pagar e/ou incrementar as próximas férias”). 🙂

      Não sei se sou eu que estou velho e cansado, se é crise de meia idade, ou se é apenas cansaço e stress temporários (esperemos que sejam só estes últimos), mas neste momento (o que não quer dizer que noutro dia não responda algo diferente) acho que preferia duas semanas de férias em casa do que uma semana no sítio mais exótico e/ou paradisíaco do planeta.

      Enfim, não ligues. Deve ser por ser segunda-feira. 🙂 Devo-te dar as boas vindas, ou já costumas comentar aqui mas com outro nome? 🙂

  1. Olá 🙂
    Se os instrumentos musicais estão incluídos, sem dúvida que escolheria a primeira opção.
    Feliz ou infelizmente (tenho estas 2 visões da coisa) tempo não me falta, já que dou aulas apenas 2 horas por dia.
    Gosto muito do teu blog!
    Joana

    1. Olá, Joana. Estou a ver que estou em minoria, mesmo, e que a maioria das pessoas preferia o dinheiro. 🙂 Não sei, talvez seja mesmo cansaço e stress acumulados, mas neste momento acho que uns dias sem ter de ir trabalhar me iam fazer bem melhor do que qualquer coisa que pudesse comprar com dinheiro (assumindo que férias não são compráveis — e neste país acho que não são. Se pudesse fazer tipo “não venho nos próximos 3 dias, e reduzem-me 3 dias de ordenado neste mês”…) Enfim, vou tentar que os próximos posts sejam menos “crise-de-meia-idade”, e menos deprimentes. 🙂

      Tenho inveja do teu tempo livre. 🙂 Mas consegues ganhar o suficiente para viver, certo?

      Obrigado pelo elogio, também. 🙂

  2. 🙂 De hoje a 1 mês também entro nos entas.
    Já passei por várias fases relativamente à minha situação laboral.
    O desespero por não trabalhar a tempo inteiro (não só por ter menos salário ao fim do mês, mas também por causa do futuro em termos de reforma) felizmente já passou.
    Agora aceitei que não me devo centrar no que isso me traz de menos bom e centro-me nos aspetos positivos.
    Vou buscar ânimo pensando que por volta às 17h já estamos todos juntos em casa, a fazer programas porreiros (e com um filhote adolescente). É nisto que me apoio…
    Férias, em 16 anos de casamento só na lua-de-mel e 1 ano que fomos ao Algarve.
    Isto antes dava-me cabo do juízo, cheguei a ter pensamentos muito maus. Sentia-me impotente porque tinha muito receio que algo faltasse ao nosso filhote.
    Hoje, gerimos o melhor que pudemos o orçamento (facilita não ter créditos tirando a casa e um piano digital que fizemos questão de comprar ao filhote porque vejo os olhos dele brilhar quando toca. É um sacifício que acaba por não o ser porque lá está, proporciona-nos momentos que espero que ele leve para a vida).
    Olha, desculpa o testamento 🙂 Não era para abusar, mas no fundo é para deixar um testemunho positivo face a certas fases más da vida. Não podemos mesmo baixar os braços.

    Os tais 1000€ era para lhe comprar um violino porque o rapaz descobriu mais esta paixão e o que tem já começa a saber a pouco. Por isso nem pensei 2 vezes em optar pelo dinheiro. Neste caso, o instrumento era para ele mas para eu usufruir 🙂 🙂

    1. Estás à vontade em relação ao “testamento” (devias ver os comentários que às vezes faço noutros blogs, ou às vezes até no meu próprio, quando me dá para adicionar alguma coisa ao post mas ao mesmo tempo tempo acho que ele já tem princípio, meio e fim, e por isso não me apetece editá-lo). 🙂 De resto, não te conheço de lado nenhum, obviamente, mas pareces-me estar no bom caminho — sobretudo por apreciares que tempo com as pessoas de quem gostas é mais importante do que luxos e bens materiais (nunca vou entender aquelas pessoas que trabalham 80 horas por semana, e dizem que é “para os filhos” — com quem nunca passam tempo nenhum, mas acham que dar-lhes coisas caras é substituto). Por outro lado, se o violino vos vai fazer felizes, não há mal nenhum em juntarem para isso. 🙂

  3. Eu vou subverter a pergunta porque escolhia a opção 1, gastava em um ou vário gadgets com maior facilidade de revenda e dos 1.000€ ficava com uns 750€ em cash, pelo menos.

    Tu não faças perguntas que permitam este nível de subversão 😀

    1. Pois, eu achei melhor não tentar cobrir todas as mil e uma formas de dar a volta ao espírito da pergunta. 🙂

      Para mim, tudo se resume a isto: não há nada no planeta que pudesse comprar com 1000€ que neste momento valesse para mim tanto como uma semana de descanso. Mas, claro, isto sou eu que estou velho e cansado. 🙂

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