Acabei recentemente o livro “Atomic Habits“, de James Clear (este até existe em português, como “Hábitos Atómicos” — está disponível na Fnac, por exemplo). Ainda penso fazer um post sobre ele mais em detalhe (e sim, eu sei que já disse isso sobre mais um livro ou dois. Um dia destes. 🙂 ), mas, em geral, gostei bastante do dito, e tirei de lá uma frase que adorei — e que não é exactamente como o livro põe a coisa (já lá vamos), mas a ideia é a mesma, e é como me ficou na cabeça. 🙂
Sabem quando começamos a tentar criar um novo hábito positivo; por exemplo:
- fazer exercício em casa;
- ir ao ginásio;
- ir dar um passeio a pé;
- comer comida saudável;
- evitar alguma coisa que nos faz mal;
- ler 15 minutos de não-ficção (aprender novos skills, auto-melhoria, etc.) por dia;
- escrever 10 páginas por dia do nosso futuro bestseller;
- etc.?
Se são vagamente como eu, ou como (na minha experiência) a maior parte das pessoas, decerto já vos aconteceu algo como o seguinte: começam nos primeiros dias a fazer a coisa bem feita, sem falta, e com imenso entusiasmo. Mas eventualmente (por exemplo, umas semanas depois) falham um dia, por alguma razão, possivelmente até de força maior (uma doença, uma emergência familiar, etc.), ou simplesmente porque o dia foi particularmente difícil e estão exaustos… e, depois disso, mesmo que tentem voltar ao bom hábito, parece que o entusiasmo anterior já se acabou; talvez repitam a coisa mais um dia ou dois, mas a atitude já é outra — sentem que já falharam uma vez, que já perderam o ritmo, e que continuar a tentar já não vai proporcionar nenhum benefício. E eventualmente falham mais um dia, e depois disso a atitude é de “perdido por cem, perdido por mil” — ou seja, lá se foi o hábito.
Talvez aconteça, meses ou anos depois, tomarem a decisão de que “desta é que é”, recomeçarem o hábito com grande entusiasmo outra vez… e, mais semana menos semana, a história anterior repete-se. 🙁
Não sei quanto a vocês, mas a história dos parágrafos acima já me aconteceu imensas vezes na vida, desde a infância. E o resultado? Não só não conseguimos melhorar a nossa vida, como para cúmulo ainda nos sentimos culpados por não conseguirmos ser fiéis às nossas decisões, por deixarmos “tudo” a meio, por aparentemente não termos “força de vontade” nenhuma. Não só é mau para a nossa vida pela falta de progresso, mas também deixa a nossa auto-estima cada vez mais em baixo.
E a solução, de certa forma, é tão simples: o importante é não faltar no segundo dia.
É pensarmos que um só dia em falha (entre tantos dias de sucesso) não interrompe de nenhuma forma palpável o nosso ritmo, e conseguirmos não nos sentir culpados por não termos cumprido o bom hábito ou evitarmos o mau hábito um só dia, desde que no dia seguinte estejamos lá outra vez, a fazer a coisa certa.
O primeiro dia é como um tropeção numa corrida: é perfeitamente compreensível e desculpável, e não diz nada sobre o nosso carácter. O segundo dia é que faz realmente a diferença — determina se somos o tipo de pessoa que continua a correr depois de um tropeção, ou o tipo de pessoa que desiste na primeira pedra no caminho.
Uma metáfora que o autor menciona no livro também me ficou na memória: cada hábito nosso é como uma eleição para quem somos (na parte referente a esse hábito), e cada vez que cumprimos ou não cumprimos o hábito é como um voto nesse sentido. Ora, para ganhar uma eleição, não precisamos de unanimidade; basta termos mais votos do que o adversário. 🙂 Se (por exemplo) for correr na maior parte dos dias, então o “sou um tipo que corre” ganhou com a maioria dos votos — mesmo que não vá correr absolutamente todos os dias.
(Curiosamente, recordei-me da frase como no título do post, mas fui há pouco revê-la no livro, e o que o autor escreve é “nunca falhar/faltar duas vezes“. No contexto em que aparece no livro significa exactamente a mesma coisa, mas prefiro a minha versão por ser menos dependente desse contexto. 🙂 )
Um dos meus livros favoritos. Recomento também A Psicologia do Dinheiro do Morgan Housel, é um ótimo complemento.
Sim, também já o li, e é um dos que mencionei no início do artigo como tendo intenção de fazer um post detalhado sobre o mesmo. 🙂 Muito bom, também.
Comecei há dias o “Choose FI” (Brad Barrett, Chris Mamula, e Jonathan Mendonsa); para já também me parece bom. Parece muito um apanhado do que se fala por aí sobre FI em blogs, podcasts, etc., e está escrito de uma forma que estou a achar agradável e inspiradora, até agora.
Conheço, ouço o podcast deles que também se chama Choose FI.