Vi há dias um post no blog “A teia dos 20 mais x!” que linkava para um artigo: Taxa de poupança das famílias diminui no 1º trimestre, e — talvez por ter alguma tendência para ser demasiado literal — a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “quer dizer que as pessoas estão a desperdiçar mais dinheiro“?
É claro (pensando uns segundos) que não é esse o significado; quer dizer apenas que estão a pôr menos dinheiro (relativamente aos rendimentos) em poupanças/contas de poupança. Mas fiquei a pensar em como o termo “poupança” pode ter vários significados; por exemplo:
- redução de gastos (corte de despesas desnecessárias, redução de outras, etc.);
- dinheiro posto de parte todos os meses (em envelopes, contas poupança, index funds ou outros investimentos, etc.)
Se eu participasse no inquérito que serviu de base para a notícia acima mencionada, apesar de ter feito bastante do ponto 1. (reduzi imenso várias despesas, sobretudo gastos “consumistas”, entretenimento, etc., além de ter cortado em várias despesas mais básicas/essenciais), eliminei nos últimos meses todos os tipos de poupança-de-acumulação enquanto não pagar (pelo menos) a totalidade dos cartões de crédito, por isso, pela definição 2., estou a “poupar” zero já há uns meses.
Portanto, a hipotética frase (algo sensacionalista, e eu sei que o artigo em si não diz exactamente isso) “ah e tal, os portugueses poupam cada vez menos” aplicar-se-ia a mim? Não sei; parece-me haver aí um pequeno julgamento de valor, tipo “se não poupas (as in todos os meses contribuir para uma poupança), és um consumista chapa-ganha-chapa-gasta“. Mas às vezes a poupança é de outro tipo, mais relacionada com a frugalidade e menos com a acumulação.
Incidentalmente, voltei a ler (para ser exacto, desta vez foi ouvir o audiobook) o livro “The Richest Man in Babylon”, e uma parte do mesmo refere-se ao pagamento de dívidas (de um personagem que, depois de fugir das mesmas, até passou uns tempos como escravo longe dali), e o plano que ele faz, e segue, inclui viver com 7/10 dos rendimentos, usar 2/10 para pagar dívidas (depois de falar com cada um dos credores e combinar com eles um pagamento lento mas regular de cada dívida — essa parte também é interessante noutros aspectos, incluindo a reacção dos vários credores, mas elaborarei mais isso quando falar do livro para os livros recomendados), e, por último, 1/10 para “guardar para si próprio” — ou seja, poupar (no sentido 2., do início do post).
Eu, no entanto, não estou a fazer isso, como já mencionei aqui no passado, já que 1) numa emergência séria tenho uma família que me poderá ajudar, 2) o emprego é estável e seguro (e tenho ofertas regulares no LinkedIn de outros sítios, caso precisasse), e, talvez o mais importante: 3) o dinheiro ainda devido gera juros, que pelos vistos não existiam na Babilónia antiga (o livro não os menciona, pelo menos nesse capítulo). 🙂 Cada mês a mais com dívidas de cartões de crédito é um mês em que desperdiço umas boas dezenas de euros (e já chegaram a ser bem mais de uma centena), pelo que neste momento prefiro mesmo pagar os ditos tão depressa quanto possível, mesmo que isso signifique que, para todos os efeitos, não há poupanças (pelo menos até Novembro ou isso).
Hmm, este foi dos posts mais “divagantes” que já aqui escrevi. 🙂 E, não, isto não é ainda o post (sobre poupança) para a série de conceitos.
– “Portanto, a hipotética frase (algo sensacionalista, e eu sei que o artigo em si não diz exactamente isso) “ah e tal, os portugueses poupam cada vez menos” aplicar-se-ia a mim? Não sei; parece-me haver aí um pequeno julgamento de valor, tipo “se não poupas (as in todos os meses contribuir para uma poupança), és um consumista chapa-ganha-chapa-gasta“. Mas às vezes a poupança é de outro tipo, mais relacionada com a frugalidade e menos com a acumulação.”
Compreendo o que queres dizer. Mas…
Na verdade de momento, apesar de estares a “poupar” para ti na eliminação de dividas, creio que se terá de reparar que as dividas que pagas neste momento são de investimentos feitos sem que tivesses verba a 100% para o fazer.
Ok, é certo, estás a poupar para as pagar. Retiras de um lado para colocar noutro.
Consumista chapa-ganha-chapa-gasta, penso que é o +/- o que está a acontecer, ora vejamos, estás a ter o mesmo rendimento, eliminaste x de despesas dispensáveis, mas esse x está a ser aplicado numa dívida, não é teu. Não sei se me estou a fazer entender… Estás a poupar sim senhor num dos sectores onde gastavas dinheiro, mas estás a aplica-lo num crédito que faz com que esse dinheiro não seja teu. Estás, mensalmente a ver-te com menos peso nos ombros, é certo, e concordo, a caminho de teres paz financeira ao riscar os créditos.
Dizes e bem, se fosses participar no inquérito eras dos que respondias 0% em poupança, mas que por outro lado poupas em gastos desnecessários (que tinhas), mas esse dinheiro é poupança ou é desvio para o prioritário?
Boa continuação 🙂
E obrigada pelas partilhas
Obrigado. E não tens de agradecer. 🙂
Sim, sou o primeiro a admitir que as dívidas existem por grande imaturidade minha no passado — da qual o consumismo foi apenas uma parte. Mas acho que podemos ver dívidas, em geral, como poupanças (no sentido 2.) negativas — ou seja, antes de começar a poupar/acumular “a sério”, tenho de primeiro passar pelo zero (a tal história de precisar de X para chegar à “falência”).
Por outras palavras, se tenho um buraco, acho que faz todo o sentido tapá-lo primeiro, em vez de deixá-lo lá e começar a fazer uma pilha ao lado — sobretudo porque há tremores de terra frequentes que fazem parte da pilha escorregar para dentro do buraco, enquanto este existir, e em quantidades que são “absorvidas” pelo buraco e por isso não o diminuem… (OK, esta metáfora dos juros não saiu lá muito bem 😛 ).
Mas, sim, não estou efectivamente ainda a “poupar”, no sentido de acumulação de poupanças. Isso começará lá para o fim do ano, espero, quando as dívidas se resumirem aos créditos pessoais — que depois ainda tenho de ver se dá para amortizar, mas isso será outra história.
Concordo inteiramente. Primeiro é importante tapar os buracos, no meu ponto de vista não fazia sentido estar a aumentar uma poupança com os créditos por pagar. 🙂
Mas é só o meu ponto de vista.
Conheço quem tenha dividas (não a da casa, outras) e ao envés de tentarem acabar com aquele encargo não, pagam o mínimo e aumentam poupança todos os meses, e em bons valores…
Entretanto estive a pensar: será que quando eu uso o termo “poupança“, não estarei a criar confusão?
Por exemplo, quando digo algo como “a poupança para mim não é o fim, é só o início”, o que quero dizer é que o meu objectivo (com este blog, e não só) não é apenas gastar menos, é atingir, eventualmente, a independência financeira — ou seja, não quero daqui a uns anos ainda estar a fazer posts tipo “esta semana gastei menos 8€“, quero que a minha vida já tenha mudado a sério.
Esse significado é óbvio para os estimados leitores, certo? Ou a vossa primeira interpretação foi mais tipo “pôr dinheiro de parte todos os meses não é o fim”?
É que, se for esse o caso, talvez tenha de passar a usar outros termos (tipo “redução de gastos” e “acumulação de poupanças“?)…
Obrigado. 🙂