Apesar de nos últimos tempos (com uma excepção ou outra) o blog estar mais focado em investimentos na bolsa (e ainda há muito para escrever no futuro), reparei há dias que existe uma parte importante de investir que nunca abordei aqui — o meu plano de investimento.
Mas primeiro, naturalmente, vamos responder à questão: o que é um plano de investimento, afinal? Em geral é bom definir as coisas antes de falar delas — as mesmas palavras podem significar uma coisa para uns, e algo diferente para outros.
Um plano de investimento pode ser mais simples ou mais complicado, mas no fundo resume-se a decidir (e possivelmente escrever — no meu caso, nunca o fiz até ao próximo post, mas em geral pôr estas coisas por escrito até é boa ideia, tanto em termos de ficar registado, como de ajudar a organizar as ideias) como é que vamos investir ao longo do tempo, tanto em situações “normais” como no caso de uma ou mais situações excepcionais que achamos possíveis.
Basicamente, “em geral faço X; se acontecer A, faço B; se acontecer C, faço D; etc..”
Estes planos podem ser complicadíssimos, envolvendo intervenções em tempo real ao longo do dia (ex. day trading), análise de notícias ao minuto, análise fundamental de empresas, análise técnica de gráficos, etc., tudo para tentar optimizar não só que empresas comprar e vender, mas quando — por vezes medido à fracção de segundo. É perfeitamente possível uma pessoa dedicar a vida a isto — e muitos fazem precisamente isso, seja como profissão, seja a nível pessoal. Destes últimos, uns fazem-no porque acreditam que investir “tem” de ser assim, e outros porque simplesmente acham piada, acham emocionante — e não há mal nenhum nisso.
Em alternativa, um plano pode ser extremamente simples. Que tal algo como “comprar X€ (ou Y% do ordenado) deste ETF todos os meses, nunca vendendo nada, e ignorando completamente subidas e descidas de preço”?
Se andam nas várias comunidades de FIRE e/ou literacia financeira portuguesas, de certeza que já ouviram a expressão “IWDA and chill” (basicamente “IWDA e relaxa”). Se no parágrafo acima substituirem “deste ETF” por “de IWDA“, têm aí o plano que resume essa expressão.
Repararam, acima, no “nunca vender” e no “ignorando completamente subidas e descidas de preço”? Estes dois pontos revelam que estamos perante um plano de investimento passivo, ao contrário do investimento activo, em que se tenta comprar barato e vender caro. Investindo passivamente, não há essa preocupação — as compras são regulares, e as vendas são… nunca. 🙂 Bem, “nunca” até se chegar a alguma forma de independência financeira, altura essa em que temos a opção (mas não a “obrigação”, claro) de deixar de trabalhar e viver dos investimentos (o normal é ter-se investido 25x as nossas despesas anuais, e depois vender-se 4% do investimento por ano).
Como acabámos de ver, então, um plano de investimento pode ser tão simples como “faz isto todos os meses”. Mas, na minha opinião, acho que qualquer plano, simples ou complicado, passivo ou activo, deve também incluir o necessário para gerir as nossas emoções, em períodos mais críticos.
Sabem aquelas alturas em que os mercados caem 20% ou mais num dia? Quando as notícias não falam de outra coisa (usando palavras como “crash“, “recessão“, “crise financeira“, etc.), e imensos investidores entram em pânico, vendem tudo o que têm por menos do que compraram (achando que, se não o fizerem, arriscam-se a perder tudo), e deixam-se disto para o resto da vida, passando a avisar amigos e familiares de que “a bolsa é um casino, não te metas nisso”? Acho que um plano que não inclua como agir nesses eventos é um plano incompleto. Pode ser algo tão simples como: “quedas drásticas num dia acontecem com frequência, e são algo perfeitamente normal. Já houve N no passado, esta não é nada de especial, e haverá outras no futuro. Não vou entrar em pânico, nem desviar-me do plano (excepto talvez comprar mais do que o habitual, se tiver liquidez para isso, por as acções estarem em saldo). Não “perdi dinheiro”, porque só perderia se vendesse. Não estou nisto por uma semana, mas por décadas. E a longo prazo os mercados sobem sempre.”
E é isto. A seguir: o meu plano. Até lá: dúvidas? 🙂